você que já veio e você que está

sábado, 30 de maio de 2009

Véspera

O dia que antecede proíbe a inércia de meu lívido ser
Eu vagueio em volta das níveas paredes
Um véu invisível envolve-me em telha
Desprendo-me insalubremente ansiosa

Amanhã há de chegar e consigo trará novo sol
A lua de hoje me faz mil promessas
Espero brilhante a sina ebriática
Que me tem sob habenas imortais

Se tudo o mais me enerva e tonteia
Existe deveras algo de que temer
O dia que vem ele vai e para onde?
A véspera

Oh, véspera, és áspera

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dormi

Eu ainda me lembro de quando andávamos de mãos dadas. Agora quando te vejo minha mão está num canto e a tua noutro. Enquanto recordo-me dos dias tristes que passei ao teu lado, degrado-me lembrando do quão feliz eu era em vivê-los. Sou triste porque não mais os vivo. Sou triste porque não mais vivo dias tristes junto a ti. Tua mão e a minha seguem sós - se não sós, alheias uma à outra. Vivem acompanhadas por outras. Outra para ti que não é a minha, outra para mim que não é a tua. Penso em nós e em como éramos felizmente tristes, em como os nossos lábios curvados para baixo nos faziam plenos. Tudo o que escrevo para mim sobre ti (perceba que não disse para ti) é tão redundante como as imagens de minha mente, feio como a obscuridade do meu desprazer e bobo como eu e tudo o mais. Calcei as minhas sapatilhas de dormir, deitei e... dormi.

Vida morte

Você sorri para a vida
enquanto ela te passa para trás

vida
traíra
vida
trapaceira

um dia outro
ela te passa para trás

Cada vinte e quatro horas
são menos vinte e quatro horas
De exisncia

sexta-feira, 22 de maio de 2009

É

Ela te enganava porque a verdade que te deveria ser dita não fazia o menor sentido e, não fazendo o menor sentido, existia.

Eu não me enganava, porque a verdade que me deveria ser dita não existia, pois fazia todo o sentido. Tudo o que não existe só exerce uma atividade, que é a de não exercer atividade alguma. Eu, pois, não me enganava, porque isso fazia todo o sentido, à partir do momento em que desexistia.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Covas

Covas humildes d'um sorriso primeiro
Face feroz um suspiro derradeiro
Amores perdidos antigos risos
Viço esquivo lágrima sobre o seio
Côncavos lábios de outrora agora
Escurecem e viram convexos inertes
Convertem-se mágoas azuis em vermelhas
Joga-se pedras quebra-se telhas

sábado, 9 de maio de 2009

Rua

Uma janela

Silêncio.

Teus olhos em volta
A tudo percorrem

Distinguem as cores as luzes amores
As sombras as vozes licores

Os risos os sinos meninos
Barulho de música muda

O frio o vazio da rua
Refletem a alma tua

Alma sozinha tão boa
Que imunda

Tão boa
Que inunda

A rua