você que já veio e você que está

sábado, 28 de novembro de 2009

O Bom Filho À Casa Torna

Fotos no orkut:
com oito anos: fotos de todos os seus amigos, mãe, pai, cachorro... menos de você
com dez anos: você fazendo sinais estranhos com a mão (hang lose) com um boné da ripcurl
com doze anos: você e todas as suas miguxaxxx de vestidos de malha com lantejoulas, bolsinhas de mão e saltinhos médios meio perto meio longe dos meninos da sua série, que estão de terno porque estão fazendo barmitzvá
com quatorze anos: você no shopping leblon
com dezesseis anos: você e mais umas duas amigas meio bêbadas dançando em algum lugar como a icy para "maiores" (evidentemente menores) de idade
com dezoito anos: você no volante sob o seguinte contexto: "dando carona para o amigo fudido sem grana pra comprar carro"
com vinte anos: você e novecentos amigos da FACUL tomando uma CERVA no PIRES
com vinte e dois anos: sem tempo pra postar fotos no orkut
com vinte e quatro anos: você e seus novecentos amigos na formatura da FACUL
com vinte e seis anos: você com uma pasta na mão e roupa formal, todo empolgadão pra ir trabalhar
com vinte e oito anos: você com a namorada que arrumou no trabalho
com trinta anos: você na pelada de domingo com dez dos antigos novecentos amigos
com trinta e dois anos: você no seu OHSHITMOTHERFUCKERNOWAY! casamento
com trinta e quatro anos: fotos de todos os seus filhos, mulher, sobrinhos, cunhados, primos, cachorro... menos de você
com trinta e seis anos: você e somente um dos antigos novecentos amigos – o único que remanesceu - tomando uma CERVA num bar escroto de velho que ninguém vai, ex. são roque, já com aquele barrigão de chopp que vem com a idade
com trinta e oito anos: você no carro de um dos seus antigos novecentos amigos – o único que remanesceu – porque agora você é o fudido que não tem grana pra comprar carro
com quarenta anos: você mandando um hang lose na porta do cinema do Rio Sul
com quarenta e dois anos: você no sofá de casa assistindo Faustão
com quarenta e quatro anos: você fazendo sinais estranhos com a mão com um boné da aqualung
com quarenta e seis anos: você com cara de puto segurando uma pasta na mão, cansado de trabalhar tanto e não ganhar porra nenhuma
com quarenta e oito anos: você (forçado) e toda a sua família reunidos no sofá para uma foto pro quadro da sala
com cinqüenta anos: fotos dos seus netos fazendo sinais estranhos com as mãos (hang lose) e usando bonés da ripcurl

E a saga continua. Afinal de contas, o orkut também é parâmetro sociocultural.

domingo, 22 de novembro de 2009

Pequenina confusão informacional

Depois dizem que a religião é avessa à tecnologia. E então Deus não fez o homem à prova d'agua?!

sábado, 21 de novembro de 2009

Nos olhos de Joplin estão o luar e as meninas tomando sorvete

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pessoa dois

Queria que o meu eu falasse
Queria eu silenciar para que meu eu –
Mas não eu; o eu que sou de verdade
O eu que quando morro nasce –
Fada-se

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Magnífico devaneio literário

Sentei-me na sexta feira passada em frente à lareira com os pés quentinhos dentro de uma meia de lã, enquanto segurava meu scotch, que ia bebericando daqui e dacolá. A noite tinha tudo para ser uma daquelas semiperfeitas, não fosse o frio excessivo.
O que me intrigava era como é que eu, literato e conhecedor de tudo que é vocábulo que sou, poderia não saber o significado da bosta daquela palavra. Tinha comprado um livro na semana anterior. Bem interessante, uma delícia de ler, daqueles que você lê trinta páginas corrido e nem percebe. Eis que quando chego na quadragésima oitava me deparo com a palavra mais estranha que já havia visto em quarenta e dois anos inteiros. Logicamente, isso foi me perturbando de uma tal maneira que, quinze minutos depois, eu já havia ido bater na porta da casa do Dr. Sibbers, meu analista. Não que um analista e um dicionário fossem geneticamente parecidos ou, até, uuh, a mesma pessoa/coisa. Na, na. É que Dr. Sibbers lia bastante. Mas o velho também não soube me dar uma resposta, o que me levou a um desespero maior ainda: se nem o Dr. Sibbers sabia o que aquilo significava, deveria mesmo ser alguma coisa muito oculta. Peguei o mais compacto dos meus jatinhos e fui parar imediatamente no Kansas, onde existe a maior Escola literária universal, até onde se sabe. Bati um papo com Harold, o diretor barbudo e, embora tenha ficado meio encabulado, não soube me dizer a solução para a minha dúvida. Ok, agora sim isso era de dar medo. Se Harold que era Harold...! Decidi ir mais além. Júpiter. Não sei quem foi o imbecil que disse que aquilo ali não era mais um planeta. Como não é? É um planeta autenticado. Procurei em todos os livros de todas as bibliotecas nacionais. Nada. Essa palavra não constava. Isso tudo estava prestes a acabar comigo, com o sentido de minha vida e, logo, com a minha vida mesmo. Sem saber se voltava ou não, se ficava ou ia, se chorava ou ria, parei num bar jupteriano e tomei pinga suficiente para não acordar tão cedo. Escorei-me no chão amarelo que parecia calçar todo o planeta, dobrei os braços sob a cabeça e me pus a soluçar, entre gritos desesperados contendo frases como "e agora", "só jesus" e "pro diabo!"
É claro que isso estragou definitivamente a minha noite.