você que já veio e você que está

quarta-feira, 31 de março de 2010

Elocubrações na confeitaria

Quis Tudo dizer.
Mas Nada disse.

Postum Scriptum:
- Nada: Vocês fazem misto quente?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dia D

Houve o dia em que Deus teve com o Diabo.
- Vá de retro!
Vá reto, diz Diabo a Deus
Deus vai reto e cai num buraco
Lá ele encontra Jesus
Têm breve diálogo em que Jesus dispara
- Papai!

O outro vira com a cara de pau
Que ele mesmo fez
- Estás enganado!
Num repente o céu se rompe
Caem cadáveres, corpos, antigos mortos,
Padres
mortos
Freiras, feirantes, retirantes, viciados em refrigerantes,

Católicos
Tudo caoticamente desmoronado sobre tudo, caotizado,
E todas as coisas catolicamente catalizadas!
A vida de toda a gente é inútil
Olham-se, choram, perguntam-se
Choram também agnósticos
Deus está ali
a olho nu se vê

É a desmistificação!

Estão todos vendo! Ele só não é o pai de quem
Toda a gente queria que fosse
Não é culpa do pobre
Não ter comido a Maria certa.
A Maria certa
Nem sequer
comida foi -
É feia.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Poesia Rodrigueana

A poesia rodrigueana é suja
Tudo quanto é rodrigueano é tão sujo e tão podre que
Fascinante. É poesia de rua
Poesia que não passa perfume
Que não se arruma
É poesia rude chula linda
Poesia cuspida pisada escarrada
Encantadoramente nojenta
Aleatoriamente específica
Especificamente a mim
Toca
Masturba-me o cérebro
Inspira-me tanta poesia! e tão feia
Quão feio pode ser aquilo que
Os olhos delicados de quem lê
Crêem belo?
A poesia rodrigueana é poesia de puta e cafetão
Madonna Jesus rei Momo polícia ladrão
É poesia de se falar arrotando
De se ouvir sonhando
Mais do que mil Nelsons;
Poesia Arruda

*www.doomsdayhocuspocus.blogspot.com, para os que se sentirem curiosos sobre a nova Rodrigueanidade

domingo, 14 de março de 2010

Coisas

Tem coisas que arrasam e tem coisas que de tanto encher vazam; tem as que equanto emergem ferem e as que quando acabam doem; as que quando estão vão são as piores.

segunda-feira, 8 de março de 2010

À Clarice Lispector

Será, Clarice? Que as meninas de coração – mulheres de corpo e de cabeça loucas, independente do sexo e da idade – se de seus romances esquecerem serão quem são de verdade?
Tu à Marília de três séculos atrás alegaste: esquece o Dirceu que esperas. Colhe de teu pranto um manto e te seca. Não é, porém, frio o teu pensamento? Feminista, fêmeo, férreo?
Quem dera quem amasse fosse pastor de suas sensações. Ao contrário. Sua'lma não acolhe calma; é chama em constante brasa e cheia de lágrimas e cheia de mágoas e cheia de vícios e obsessões a fio. Quem não, rio (levado pelas águas para um sempre tão nada quanto o que não se quer conhecer). Não, Clarice. Não diga à pobre que esqueça. Não diga que envelheça sem a esperança que alimenta: alimentar a esperança não a desmembra, alimenta-a. E desse sonho poderão nascer outros, poderão, aos poucos, surgir flores amareladas de tempo, que serão guardadas numa gaveta. Não diga, Clarice, a ela que esqueça. Não diga a ela que esqueça. E não esquece também.