você que já veio e você que está

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na lata

Não acho que estejamos
Não adiantam os conselhos que nos escrevemos
Nem eu nem tu os lemos

Não acho que estivemos
Nem que vamos, muito menos que vamos estar

Não dói em mim
Te dói?
A graça é que me feres e a ti mesmo te corróis

s e m q u e e u m e m o v a

Por dentro e tentas tanto ainda que haja um dia ‘nós’
Pois não dói em mim
E eu digo isso assim, latamente

Na lata!

Sei que querias, pois sentes saudade
Que eu me debruçasse sobre os meus joelhos
Que eu me sentasse na calçada, os olhos vermelhos
Que eu desamasse aos poucos o que visse no espelho
E sei que não por maldade, eu juro que sei

Aconteço ser mais forte que supões
Levantei pedras de onde nem imaginas
Dou a quaisquer palavras que queiras rimas
Olha como pegas tua menina e a subestimas
Olha como a trataste nos últimos dez verões

Acontece que me aconteci
Para mim mesma de uma forma mágica
De repente não menos trágica
Suicidando-me enquanto simpática
Morri

É que sou prática!

Na lata

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ciência do céu

Deus também é uma minoria.

sábado, 11 de setembro de 2010

Do meu dever incontestável e absoluto de me indignar com qualquer coisa, afinal para que servem os jovens?

*Leia ouvindo rock progressivo da pior qualidade

1) Por que, num texto, numerar pessoas é tão mais fácil do que chamá-las por um nome, que terá que ser inventado? Talvez porque números não tenham que ser inventados, eles já existem. Mas e quanto aos números a que nunca se chega numa contagem? O que vem depois dos quinquilhões de qualquer coisa? Quantos pares de All Star caberão numa sala?

2) Porque eu me importo?

3) Faz um tempo, eu me peguei reciclando todas as minhas roupas. Reciclando, mesmo. Selecionando, jogando fora, cortando umas, colando noutras. A verdade anarco-punk é que eu só queria me livrar de roupas. Me livrar de roupas. Deve ser sensacional sair por aí pelado, eu, que sempre quebrei ou tentei quebrar, ou tentarei, convenções, nunca saí. E acho que nunca vou. Essa perspectiva me mata, achar que nunca vou. Mas é a verdade, fazer o quê, não vou ficar me enganando como muitos (ficam me enganando).

4) Eis que são duas coisas que eu adoraria fazer: A) contar eternamente e B) sair por aí pelada. De repente sair por aí pelada, sentar em alguma esquina e contar.

5) Contar eternamente eu vejo como uma forma de desafio. Estou desafiando essas porras desses números. Quero ver até onde eles vão. Eu fico aqui contando. Vamo lá.

6) Agora mesmo vocês foram testemunhas do meu apego por tudo que é finito: separei em A e B os meus planos. Não que sejam planos – não. Mas não é engraçado? Como tudo é mais fácil, até para o ser que não só não é organizado como também não faz questão de ser? É inconscientemente mais prático classificar o que quer que seja em grupos discernidos por letras, números. Letras.

7) Letra não tem essa viadagem. Letra é um negócio que acaba. Depois de “Z”, não tem mais nada, pá, foi, fim. Não tem esse mistério escroto, essa de ninguém saber onde acaba, quando acaba, como acaba, pra que serve o resto que ninguém usa, se alguém usa, se tem resto. Não é que nem número. Número é coisa de viadinho.

8) Letras sempre me agradaram mais do que números. Números são matemática, e matemática tem um santo que não bate com o meu. Sou judia, deve ser isso (judeu não tem santo). Matemática então está tentando bater com um santo que não existe. Vai ficar lá pra sempre. Batendo. Letras são fofas, letras formam palavras, letras dão em música, letras põem a alma pra fora. Letra é uma coisa foda.

9) Como é que você escreveria “eu te amo” pra alguém em números? No máximo ia dar uma de Família Restart, mandando um shift+vírgula+3 (<3 – coraçãozinho). Po, puta falta de sacanagem, meu. (http://www.youtube.com/watch?v=oXMTWS2i2ng)

10) Mas eu ainda quero sair pelada por aí. Tipo Hair.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Amooooorrrrr

Simplesmente nada foi mais forte do que o dia em que te olhei pela primeira vez. Porque é que olhos são tão janelas? Almas tão saltam de olhos? A vidraçaria humana também entra em crise - catarata, miopia. Mas a crise maior é a de olhos que não são olhados de volta. A de vozes que se calam por não encontrarem eco. Tudo humano se entristece, não é só o ser em todo, o ser em especificidade também. O homem em partes se aborrece, chora, ama, as mãos amam, os dentes amam. A cor de cada órgão depende unicamente de seu grau de amor pelo externo. A infinidade é o externo; tudo o que vai além de si próprio enquanto humano; tudo o que participa da transgressão corpórea; o que evapora fora do ser e ali mesmo nasce; o panorama horizontal. O amor tem com isso nada mais que uma relação de ódio. Com a matemática. Não é, o ódio, amor? Em toda a sua paixão furiosa? É claro que é. É o estado primo do amar, odiar. É o amor na cor vinho, na primeira casa, vestido de paixão rústica, há necessidade de destruição, há mortes internas a todo o minuto.

Quantas vezes mais vamos falar de amor até que cansemos? A que horas cansamos?