você que já veio e você que está

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Escândalos

Não é que eu não seja fã de escândalos.
Eu não sou fã dos seus escândalos.
Eu sou fã dos meus.

o trabalho do poeta

o trabalho do poeta,
eu percebo,
é estar numa conversa séria contigo
e não conseguir prestar atenção em uma palavra do que você diga
em troca de observar cada vez
que você prende e solta os cabelos, ascende e apaga um cigarro,
e, depois,
adicionando um toque personalizado de drama,
reproduzir a ocasião com frases soltas à respeito de tudo,
menos do conteúdo óbvio.

Fora de mim

Qualquer coisa que nos mantém afastados de nós
costuma ser muito interessante.
Por isso a bebida é tão interessante.
Por isso o sexo é tão interessante.
Por isso os outros são tão interessantes.

domingo, 26 de dezembro de 2010

"nova" comunicação poético-amorosa

a poesia expira tanto quanto o amor expira
ambos expiram
e inspiram

a poesia nasce duma mão que quase certo sofre
o amor, duma alma nobre que se abre para o além corpo
e ambos morrem

a poesia e o amor estão juntos porque não se poetiza
sem um quê de vício e não se ama sem um quê de medo
então se sucumbe

escrever e amar são fáceis
ambos. Porque para escrever basta apoiar em algum lugar
e para amar, ora, basta apoiar em alguém

afinal de contas não é verdade que escrever poesia vem da vontade
de que alguém seja testemunha do seu espírito
e amar vem da vontade de que alguém seja testemunha dos teus dias?

a poesia expira tanto quanto o amor expira
ambos expiram
e inspiram
ambos respiram
ambos param de respirar
ambos morrem.

a necessidade do estacionamento de corpos

pelo amor de deus, vamos ser crus um pouco. só assim –
sem jogos de palavras sem olhares torcidos sem roupas, mas, sem tesão,
apenas as criaturas paradas uma
diante da outra sem tocar-se entendendo-se só de análise,
vistas atentas e
carne acomodada,
eu pessoa me apresento a você pessoa.
nossas
pessoas agora podem socializar.
oi,
eu disse,
olá,
voce disse,
tentando comigo um aperto de mãos:
eu não deixei que você tocasse as minhas –
o toque é corrosivo
o toque é sujo
o toque trará o sabor do sexo
o simples toque de mãos
o objetivo é a frieza, o cálculo
que estejamos, sim, absortos.
vamos ficar crus despidos! enxergar fundo o que olho nenhum consegue
nem o esquerdo nem o direito nem o chacra nem o cu.
eu não te culpo pelo nosso profundo desconhecimento, eu culpo a
mim por não saber em quem pôr esta culpa.
tudo o que futuramente vier de você provavelmente me atrairá: um olhar desejoso de cama, um caminhar, um trote ou marcha
mas para que todo o resto funcione preciso de tempo parada
preciso de tempo parada te absorvendo e você me absorvendo
e nesta profunda absorção eu quero me sentir no direito de ser abduzida (por uma nave)
quero estar pura, neutra, para ser arrebatada por sensações
- eu te poderei ver como é e vice versa.
de outra forma
nunca seremos absolutamente nada
um para o
outro.

- depois de pensar sobre isso -

eu acho que não mereço
uma gota
do que quer que seja
a menos que seja
veneno,
por isso
não se acanhe,
ao contrário, sinta-se à vontade para me matar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Término

na verdade foi mais fácil do
que eu imaginava, eu ia ensaiando por horas
por dias pela rua em casa até cagando
no banheiro

eu ensaiava
como eu ia te dizer que não te amava mais
comé que se diz pra alguém que não se ama mais?
você mudou de uns tempos pra cá

não, minto, fui eu que mudei,
eu disse (pro espelho),

tenho tido tanta coisa pra ler que mal
me sobra tempo pra mim mesma

que merda de desculpa
até cagando eu conseguia perceber como era uma
merda essa desculpa

foda-se, parei de ensaiar, fui até ele
e falei o seguinte: olha, querido,
eu disse,
eu não gosto mais de você. é que... me desculpa. eu não
sei direito o que é, mas acho que é a cor do seu cabelo.

você tem uma cor de cabelo um pouco indefinida.
isso traz muito da sua personalidade.
seu cabelo não é nem de todo cinza nem de todo castanho, isso

me intriga. quererá isso dizer
que você não sabe quem é direito?

que você não tem personalidade?

que você é inconstante, imaturo?

não sei, e tenho medo de descobrir!
tenho medo de estar perto de você!
tenho medo de você!

fique longe de mim - não chega a mais de cem metros - se afaste
EU ESTOU FALANDO SÉRIO, SE AFASTE ou
eu grito -Polícia,

eu disse,

eu grito mesmo, hein! Socorro! Socorro! Bombeiros! Fogo!
se você ficar aí parado olhando pra
mim com essa

cara de maníaco
eu grito que você está me tacando fogo. O quê,
vai tacar de verdade?

ele vai tacar fogo!!!
salve-se quem puder!!!
como eu pude, meu deus, como eu pude
como eu não vi,

meu deus,

como eu não vi

afobadamente
peguei a minha capa de chuva
ergui o capuz de PVC
seu monstro,
eu disse,

bati-lhe a porta
forte
extremamente forte
comtodaaforçaqueeutivesse forte

respirei aliviada
comedida
satisfeita
e fui.

acho que não me saí tão mal.
acho até que me saí bem.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Apertada de bunda

ele foi embora daqui às duas da manhã
o dia tinha mudado, porque depois de meia noite
muda, mesmo que você não tenha dormido, que ainda esteja escuro

reparei em como a bunda dele era maior
do que eu pensava
fui até lá e apertei

ele me olhou com a cara esquisita que faz
quem não entende alguma coisa
eu expliquei

"percebi que era maior do que eu achava"
nisso ele com os olhos fixos nos meus
esticou o braço e botou

pra tocar uma música no meu som
com o outro, me alcançou, me levantou e me rodou no ar
me pôs no chão e se deitou sobre mim

dias passaram enquanto brincávamos
rolávamos pra lá e pra ali e
mais dias e mais dias e

foi quando eu disse "querido, melhor você ir"
ele, triste. Não se manda alguém embora assim
mas eu mandei, mandei porque

tinha sono, o encontro com a minha cama, mas, eu sozinha
dessa vez,
me fazia delirar de prazer

por isso eu disse o que disse
e com os olhos, de novo, ele me pedia mais
e dizia "vamos"

eu dizia "vá, estou com sono, minha boca está seca
você me está secando os lábios, os olhos, está me
deixando anêmica. E olha que não estamos numa história de vampiro"

ele sugeriu entrarmos; eu, delicadamente, me levantei
comecei a me vestir de forma sugestiva
minha sugestão era que ele fosse - eu queria mesmo dormir

vi a mágoa em toda a sua linguagem corporal
fiz que liguei mas não liguei
apaziguei "vamos, querido, não fique assim"

foi quando percebi: nem eu estava mais lá
a bebida me havia subido à cabeça e o sono, então
tudo conspirava para que eu desmaiasse ali mesmo

mas não.
Ele se levantou
e fomos à porta

no que ele dispara: "nunca mais faço sexo com você
você me deixa atordoado
eu nunca sei o que pensar

você me usa
você acha que eu sou um brinquedo
você me trata como se"

"vá para casa e me deixe saber quando chegar, sim?"
e um beijinho
na trave

depois uma mensagem
"eu nunca mais quero te ver. Ingrata"

e tudo isso por causa de uma simples
e corriqueira
apertada de bunda.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cássia que me desculpe

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, esperando a van da escola, sozinha. Atrasada com meu fichário novo, cantando alto pelos meios por ser uma menina má. Quem sabe o príncipe virou um chato que vive dando no meu saco? Quem sabe a vida é não parar. Eu só peço a Deus um pouco mais de malandragem, pois fui criança e não há a verdade. Eu sou poeta e amo torto, eu sou poeta e amo torto. Bobeira é não viver a fantasia. E eu ainda tenho a vida inteira. Eu corro nas ruas, eu levo xeque, mudo uma roupa ou de lugar, não dirijo minha bicicleta (porque não sei andar), tomo meu pileque e ainda tenho tempo pra escrever! Pra escrever!

Eu só peço a Deus um pouco mais de malandragem... pois sou boba
E não conheço a verdade, mas quem conhece?
Eu sou poeta e ensino a amar (trago seu amor em 3 dias)
Eu sou poeta e ensino a amar

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

oPÓésolto

eu estou te espedaçando
ao mesmo tempo estou me pindo
mesmo não cordando comigo
mesma

estou bravando o caminho
e troçando os riscos
e persando notas
e colhendo horas

pra cantar
uma mesma música
uma mesma lúdica
uma menos má

canção que quero
numa mesma bar
numa mesma mesa
de

ri! vai
o caminho é livre
o último episódio é light
o pó é solto

a base é stick
o homem é nu graças a deus
a vida é feia como manga chupada por cão
e eu canto

a mesma
a mesma
a mesma
canção