você que já veio e você que está

terça-feira, 8 de novembro de 2011

não existe medo; claro q não existe vontade.

somos dois lados estranhos de uma moeda bizarra.

minha mãe sempre q sai do quarto me dá oi. não é modo de dizer, ela sai do quarto, diz "oi", e então faz de novo.

"pra alguém que não existe, até q vc bate bem forte."

estou pensando em vc demeias.

tão obcecado em ser sid, está me obrigando a não ser nancy.

então olhamos pela janela q dava para o rio de janeiro, vc devia vir mais, vc devia vir mais.

amor da minha vida, me trate como uma estranha, vou guardar o vestido vermelho no fundo daquele armário q vc nunca conheceu.

eu vou quase sempre querer vc por perto e quase sempre achar poesia numa meia sua.

dessa a[n]gu[sti]a não beberei.

cada um devia vir com o dispositivo interno: toque de recolher.

vc é um pedaço do vc que eu fabriquei.

o q esse guardanapo aí deitado nas suas coxas tem q eu não tenho?

domingo, 6 de novembro de 2011

eu amo do meu jeito, do tipo punk a levada da breca.

tótem tôtão.

tara extraterrestre: quem é de vênus nos vê nus.

não me lembro de um momento nessa história toda em q não tive q verificar se meu coração ainda estava batendo, e ainda assim quando penso nas suas perninhas finas, eu rio.

por favor, fuja anunciando mas não fuja sutil-mente.

colocar um piercing no nariz e trazer um bicho pra dentro de casa. o nariz e a casa já não fossem estranhos o suficiente.

não tem nenhum pedaço de vc em q eu não tenha prestado a tensão.

é óbvio q deus existe. cair a internet, quer maior sinal?

todo passeio pelas possibilidades é permitido contanto q em algum momento se chegue ao óbvio.

o melhor do q existe é q pode deixar de existir.

como ser absurda, tremendamente idiota? sei lá, as pessoas vão e conseguem.

dinheiro é importante, mesmo que não seja.

não tenho te visto. nem em sonho.

dia mais triste da minha vida. ônibus. um argentino com uma câmera sentado ao lado. me filma rindo da cara dele e ri. eu ri no dia mais triste da minha vida por causa de um argentino com uma câmera. se isso não é deus, eu não sei o que é.

uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas tem gente que acha q uma coisa é outra coisa e outra coisa não é coisa nenhuma.

quando vc encontrar defeitos logo de cara, corre o risco de ser o amor da sua vida.

acredito num deus q improvisa.

"tem muita gente no mundo". 'vc está dizendo isso pra mim ou pra vc?'

se tem uma coisa q não tem como dar errado é vc lá e eu cá. essa é pra vc q não curte um risco.

nesse mundo de indiretas:, garçom, uma direta, por favor, bastante gelo. isso não é uma indireta.

festa junina e todas essas coisas que eu nunca gostei.

nada mais libertador q ouvir da pessoa q se ama: não quero.

todos contra (com)um.

esperaeânsia por experiência.

com dilma num dilema.

crise de ida: entidade.

"e ele te leva no cinema, essas coisas?", 'o que vc quer ouvir exatamente, q tem alguém fazendo comigo tudo o q eu gostaria q vc fizesse?"

tem gente que se gosta tanto que fica laranja.

"fica aí, gatinha, amanhã vc vai"

"tem muita gente no mundo". não. tem muito mundo na gente.

"to com cara de maluca", então aproveita.

poesias de metrô, linhas sub versivas.

eu quero vc e tenho uma arma, e então?

tá vendo?, é esse tipo de coisa que este tipo de coisa atrai.

tô na maior confusão mental, cara, não sei se mato ele ou ligo.

qual a dificuldade com a realidade?, comer é a realidade, comer alguém é a realidade.

não consigo comer ouvindo música, quero mastigar no ritmo da melodia.

não tenho coragem de fazer, vou e escrevo.

eu pensando em como vc não quer q eu pense em vc, e rindo.

é difícil ver alguém empenhado em alguma coisa q faz muito mal, como lidar com isso?, dizendo q verdade?

em time q está ganhando não se feche.

eu sonhei isso ou vc e sua namorada rasparam a cabeça?

por um tempo tentei entender o problema de me apaixonar por vc. é q vc é dessas figuras q se deixa na estante pra admirar, ninguém se apaixona por elas.

hj eu olhei pra minha mão e pensei, 'eu sou uma mulher'.

você não quer que eu te aprenda?

me olhando no espelho com esse coque bagunçado, colar de algemas, a camiseta do clash, calcinha preta e aquele par de meias de lã com desenho de losango, não pude deixar de notar como essa figura parece perfeita pra vc.

quero que alguém precise de mim, e então me olho no espelho e penso, coitado de quem precisar de mim.

tem problema eu andar só de tênis? eu sou moleca.

nossos problemas começaram quando parou de me bastar ser um segredo teu, precisei começar a ser não uma mulher tua, mas a tua mulher.

as pessoas perguntam pra mim como vc vai. suponho que isso quer dizer que eu devia saber.

nessa de te amar muito, achei várias vezes que não ia conseguir ficar quieta e não consegui foi falar.

"eu amo vc", sempre e tanto e não é mentira.

eu sou facilmente seduzida por todas as ideias que lembrem de longe alguma ideia tua, e de repente vou até estragar a minha vida assim.

"é, daria, eu pegaria na sua mão e diria vamos lá meu bem, mas não é o caso."

eu me arrependo de ter dezoito anos. você não sabe do que precisa com dezoito anos.

quando você aparece, eu meio que saio correndo por dentro.

por favor, não se transforme em música ruim pra mim. colabore contra a estatística.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

tantas pessoas querendo mergulhar em mim, eu não deixo tentando te afogar.

domingo, 30 de outubro de 2011

acomodei pra rir

não estou com vontade de mover um dedo para mexer nas coisas quem vem. aceito tudo como vier, assumo que mexer é não deixar vir como deve.
coração, nada demais, ferro em objeto.

sábado, 29 de outubro de 2011

mais um pouco estraga

foi grande
já diminui
vai diminuir
até tornar-se pouco
e então nada

é como acontece

acho que quando
não houver
nem mais tesão
nem mais afeto
é que não te desejarei
escrever
nem mais um texto

perguntei com os olhos dúzias de dúvidas

e as respostas meninas sapecas de 18 anos

tão reticentes a pele de pêssego e os seios rijos

quanto um

não importa

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

(Um texto é) pra dizer o que não se diz alto

Estou te esperando com meu all star laranja, meus óculos redondos e minha blusa do Clash. E minhas horas que viram anos e meus olhos embaçados de lágrimas. E novas bandas que quero te apresentar, meus novos hábitos que quero te apresentar, meu mesmo perfume. Estou te esperando com uma caneta na mão, desenhando sobre o papel de seda da mesa de um restaurante novo. E com as perninhas balançando. E minhas mudanças constantes de posição. Estou te esperando com dinheiro pra pagar táxi de volta. Com fome. E uma porção de histórias pra contar, que não vou contar, claro: quando te vejo emudeço. Estou te esperando com outros caras que beijei e não gostei, beijei e gostei mas logo lembrei de você de volta e parei de gostar. Estou te esperando de joelhos, sem joelheira. E sem nenhuma dignidade. E minha falta de pudor, e meu excesso de pudor, e toda a minha racionalidade. Estou te esperando com nomes que é feio falar. E no cio. E minhas entranhas ardendo, e andando de um lado pro outro, e sentando e levantando, e checando o celular. E os novos livros que li. Estou te esperando com os filósofos que conheci nesse tempo, com Spinoza e Epicuro e outros. E cheia de mentiras pra não te deixar perceber. E minha pose. Estou te esperando com minha pose e meus cabelos secos e o vinho seco que você me ensinou a gostar. E novas poesias. Estou te esperando com muito mais dor e o sorriso falso de sempre, e os olhares de canto de boca e a falta de diálogo. E o medo das suas aventuras e a tentativa de produzir aventuras minhas pra te botar medo. Estou te esperando completamente cheia e completamente vazia. E cheia de esperança e vazia de tudo. E minhas antigas meias em losango escondidas debaixo do all star laranja. Que você não vai enxergar. Estou te esperando com tudo o que não vou mostrar. E com a mesma fraqueza forte de sempre. E uma saudade filha da puta. E toda a parte da história que, porque é a mais bonita, é minha invenção.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

me tens como um bife à milanesa

vou na correnteza
dum olho sequer turquesa
deixo que notes em minha nudeza
nos braços, nos seios, nos lábios a rijeza
e que sem nenhuma gentileza
te aproveites de minha fraqueza

se é questão de defesa
ergueres uma fortaleza
feita de aspereza
e, nesta rudeza,
esconderes tua grandeza

faço apenas lamentar a vileza
que é me teres qual presa
que é me tirares a pureza
que é me molestares a natureza


me intriga só a morbideza
do saber que não há em lugar algum tanta clareza
como em toda essa tua infinita incerteza

tu me enrolas, me fritas, me tens à mesa
como um bife à milanesa

domingo, 25 de setembro de 2011

despistando o gado

em algum dia
no meio de algum lugar
outra cidade, não esta
pude deitar perto dele
e os olhos pesados de mágoa
cílios de baixo beijando os de cima
o inerte corpo em estado de espera
espera pelo quê?
o balanço do carro em movimento
a expectativa do corpo e a do corpo dele
o barulho da respiração do corpo e da do corpo
dele
cabelos pincelando o banco de trás
cabelos emocionados
as mãos estacionadas e umas vinte
incertezas como aquelas do meio da noite
um final de tarde quase quente e
encantadoramente rosa
não vejo porque falar do coração
é óbvio que havia coração
no maior repente
uma mão extremamente sólida pesa
sobre minha cabeça
tímida e insegura mão
e devagar, e mais devagar ainda
ensaia um samba pra lá e pra cá
enquanto sente
se é bem vinda
vê que é
um sorriso de cada lado
um na boca e um na boca dele
que vi de olhos fechados
então o corpo se arrastou
para longe de si - perto dele
até alcançar dentro do dele
fundir-se ao dele
era tão amor
que era amor

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

juntando num só

sonho com a poesia
que todo dia
durma nos meus lábios
e acorde nos teus
escureço minhas manhãs
fechando os olhos
me digo que é noite
eu não existo
longe da saudade
de você

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

canário

olhe em torno
as grades
ferrugem
este cenário
qual gaiola
prende
este canário
nesta história

apertadinho

cai, chuva da noite
é a lua soluçando
e derramando saudade
pelos olhos

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

te vi me olhando

veio e tocou
as cordas bambas
do desafinado
violão que sou

e depois se foi
dono do direito de ir
o de vir
não usou

pelas ruas de ipanema
sofro inteira
pelo menos não rio
pela metade

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

estacionamento

Teus olhos
dois tratores castanhos
eu muito parada
para que me atropelem

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Susto

Te ter me assusta
Não te ter me assusta
Por que tudo é susto?
Não da pra ser leve
Ser com calma
Ser bonito e ser interessante
Sem que pese
Sem que danifique
Que prejudique
que pressione?
É uma condição
Esse ter que sofrer?
Não da pra ser fácil
Sem ser fútil
Pra ser ótimo
Pra ser vivo
Sem doer?
É uma condição
Não poder ligar
Ter que esperar
Segurar
Refletir
Prender
Parar
Deixar pulsar pra depois
Largar
E não ir
Não fazer
Não mover
Não
Não
Não?
E onde dói mais é
Nos dedos
Que querem te tocar
Mas não tentam

sábado, 27 de agosto de 2011

Pelo amor de deus, estanca

Sou um coração que não bate, espanca

terça-feira, 23 de agosto de 2011

todos por um

me perturba o fato
de que amar você não faz nenhum
dos cinco sentidos

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

VERDADEOFEGANTE

mais nada;
só o embaixo da tua asa
a mão que atrasa
e a brasa
dos meus
nos teus olhos.

domingo, 14 de agosto de 2011

judas

eu quero três minutos pra te esquecer
ou pra te aquecer
eu tenho três minutos pra te aquecer
e daí te esquecer

Poema (di)Minuto

Nas muitas horas
Vejo passar
Horas breves
Entendo que pelos agoras
Meu coração é menos de sóis
Que de neves

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

um título estilo legião

procure pelo beijo que te faça
perder a vontade de conhecer o mundo

terça-feira, 9 de agosto de 2011

um título estilo cazuza

nada me interessa
a não ser o fato de que em breve eu não te terei
e você não me terá
e isso será quase tão doce
quanto o fato de que eu te tive
e você me tem

segunda-feira, 25 de julho de 2011

nada (é) pessoal

eu quero a experiência de conversar comigo entre aspas
pra respeitar uma vez na vida todas as coisas que
me digo e me repito
como se fosse outra pessoa que tivesse dito
já que em momento assim - a gente até se aconselha - em momento aflito;
mas não têm lá muito efeito essas nossas mini valentias
que vivem, ah, brotando e se indo
dentro

do que sirvo eu para mim?
quero descobrir
e então querer me usar
de maneira inteligente
usufruir dessa eu, embora
saiba lá como isso funciona

e ter um caldeirão de mini valentias
pra levar pra viagem
e se nem nessa procura enfurecida
eu me encontrar

haverá coisa mais bela?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

pele.

a cabeça
não ganha da pele
a certeza
não ganha da pele
a decisão
não ganha da pele
o coração
não ganha da pele
a sobriedade
não ganha da pele
a vigilância
não ganha da pele
a segurança
não ganha da pele
a confusão
que se faz pela pele
é tão própria da gente
quanto o nosso próprio
sei lá...
sistema circulatório.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

onde vende caneta?

todas as tentativas aqui
serão como rabiscar o mais forte possível
com um lápis;
por mais escuro que fique, nunca ficará preto.

sábado, 16 de julho de 2011

prisão da ficção

minhas mãos latejam para escrever um poema verídico
mas nada de verdade acontece.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema de Maiúsculas Vomitado em Cinco Segundos

Eu podia escrever trinta poemas praquele cara
E se alguém me perguntasse como ele era, bem, eu podia descrever exatamente
Nos mínimos detalhes, da cabeça ao pé e todo o caminho de volta
Eu podia fazer uma música praquele cara, podia até tocar essa música
Ainda que eu não saiba tocar nada
Em lugar nenhum
Eu podia viver vários dias só com aquele cara
Apesar de que eu não costumo dedicar dias a pessoas, acho chato
E então podia escrever mais trinta poemas
Iguais
Pelos próximos trinta anos
E outras sete ou oito músicas, pelos próximos trinta anos, praquele cara
E tocá-las todas, com todos os acordes ou notas ou batucadas
Ainda que eu não soubesse tocar nada
Eu poderia ter escrito trinta poemas praquele cara
E se alguém me perguntasse como ele era, bem, eu descreveria os traços que minha imaginação desenhasse
Nos mínimos detalhes, da cabeça ao pé e todo o caminho de volta
Eu poderia ter feito uma música praquele cara, poderia ter tocado essa música
Pelos próximos trinta anos, praquele cara, e fica-las tocando, tocá-las todas
Com todas as notas acordes batucadas
Ainda que eu soubesse
Que não sabia tocar nada
Em lugar nenhum
E que nada me tocava
Além da lembrança
Do que um dia fora
Pra mim
Aquele cara -
E se ninguém me perguntasse como ele era, bem, eu ficaria falando sozinha, pra mim.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

o resto é sacanagem

cansa
ver todo mundo vivendo
em busca de motivos

o motivo?
descrédito

fico sem motivo por;à;na vontade
vontade não basta, enfim
importa ter razões pra ir embora

e, nem por isso,
ir -
isso é que é
crédito

o resto
é sacanagem

sexta-feira, 1 de julho de 2011

tap

era a minha sensibilidade
a formiga
sobre a qual sapateaste

terça-feira, 28 de junho de 2011

dos mistérios

você pode
pro meu coração
ser espeto
ou espetáculo

sábado, 25 de junho de 2011

mudanças

coração trova
cova

triste
uma ova

quinta-feira, 23 de junho de 2011

porque podia doer demais

eu me afastei,
porque podia doer demais
deixei de olhar,
porque podia doer demais
andei na direção contrária,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu me sentei na pedra de um degrau
e apoiei a minha única cabeça sobre os meus dois braços,
cruzados,
e chorei umas quatro ou cinco ou seis lágrimas
que seriam melhores do que o que viria
quando começasse a doer demais
e sequei os meus dois olhos com outros dois
dos meus dez dedos
e em breve me levantei
mal acreditando no peso que a minha única coluna
exercia sobre os meus dois pés
me sentindo a pior das criaturas
rindo de mim
e me jurei que nunca mais voltava lá,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu neguei até a morte,
e como não morri, mordi
a língua
- está aí outra coisa que dói demais -
deixei de ouvir uma música,
porque podia doer demais
e de ir a um bar,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
doía
tudo o que pode ser
é
e nós: os mesmos. e as circunstâncias: iguais

terça-feira, 21 de junho de 2011

AMAR

guei

lição número zero

pego pelo ego
cego pelo ego
morto pelo ego
pelo ego, absorto

só pelo ego
frio pelo ego
torto pelo ego
pelo ego, outro

porque cego, pego
quando morto, absorto
e como frio, só

quem se outra
se entorta

segunda-feira, 20 de junho de 2011

paixão costumeira é a maldita

qual pedra coração empanado apodra
frito em óleo da essencial paixão:

então que se os grandes já pecam na equitação
sem conseguir equilibrar-se sobre a cela
manter os pés fincados no estribo
segurar com verve a rédea
portar-se dignamente sobre o nobre cavalo
que lhes vai por baixo,

imagine os tolos!

completamente esmagados pela menor negligência
de quem quer que amem
ah!,
estes sofrerão.

domingo, 12 de junho de 2011

amor empapado; poço

Não haverá satisfação enquanto os donos de um coração melado não o secarem no manto seco do colo do outro.
E nem revolução, enquanto o manto do colo do outro estiver seco o bastante.
Por isso há muito menos satisfação do que revolução.
Muitos corações melados. Poucos os mantos.

Gente fina

Eu quis ser a bactéria da sujeira da sola da meia que cobria seu pé esquerdo.
Ele não deixou. Achou muito.

domingo, 5 de junho de 2011

don't sit down cause i've moved your chair

eu não sou domadora de circo
então quero que te fodas tu
que me dizes – tens que controlar a tua paixão
eu não sou domadora de circo
para podar leões como o que me cresce agora [por dentro]
eu sou só uma pessoa que quer ter o direito de
não ter 1) a capacidade; 2) o poder; 3) a vontade
de se punir pelo que possivelmente sente
controla-te tu, ora, cacete, sê menos apaixonante

e tanta merda dizes, ó, doçura
tanta merda fazes
que me confundes – às vezes parece que perco
a noção da hora, quando reparo
já é cedo do outro dia...

acho que é paixão
quando perco minutos
escrevendo uma poesia
e eles parecem horas

it could be nice
but instead
it’s ice

quinta-feira, 2 de junho de 2011

centro da cidade ou corriqueirices, deusinho e fenomenalmente, palavras que inventei muito mais por querer inventá-las do que por falta das adequadas

Tenho andado pelas ruas do centro da cidade
e me surpreende que nada de muito engraçado aconteça nesse entreato
quando soube que andaria com frequência pelas ruas do centro da cidade
pensei que muita coisa engraçada aconteceria

por ex., não vi nenhum homem sobre pernas de pau
ou o rapa lavando toda a mercadoria
vi corriqueirices, nada de especial
então agora estou entrando em profunda depressão

alguém tem que fazer alguma coisa de muito engraçado
no centro da cidade amanhã à tarde
porque senão acabarei definhando de desilusão
oh, de falta de fé e de desilusão

fica assim combinado, meu deusinho,
caminharei preparada para armar um sorriso
porque tenho agora a certeza de que o senhor vai me por
uma coisa fenomenalmente cômica no meio do caminho

quarta-feira, 1 de junho de 2011

do antisonífero

O que há com as paixões de tão cadente
o que há com elas de tão latente
capaz de tornar qualquer ordinário
pássaro?
As mãos de ordinário, asas de pássaro
os lábios de ordinário, bico de pássaro
a prisão estática
a melancolia extrema
a profunda depressão
o desânimo imperativo
a alma marejada
de ordinário,
uma pena
rósea
de pássaro?
(o requinte das paixões é o silêncio
serem sofridas
vividas quieto -
sem calma, sem paz, sem lucidez
apenas o agito furioso
de uma insaciável tempestade)

terça-feira, 31 de maio de 2011

no último abraço quase nunca existem mãos/só garras

ah, mãos bonitas
ah, braços, costas, boca e mãos
que - sem saber pronde vão
os meus olhos cegos seguem -
só não me levem
a tornar-me dessas parasitas

no último abraço quase nunca existem mãos
só garras

proteções

para
de me ler em relevo
quando eu não posso mais
que rabiscar o teu nome

domingo, 29 de maio de 2011

falta de verde por, também, dalva

estou deitada na minha cama
comendo uma mini pizza de mussarela
da sadia
sadia é bom
mas não é sadia (tem gente que não bebe e está morrendo
então ok)
ouço how soon is now
penso em como eu amo essa música
penso que ainda estou com fome, mesmo depois da
mini pizza de mussarela
tenho certeza de que não é assim que se escreve
mussarela
mas vida que segue
hoje pensei em sid e nancy
essas histórias sempre me intrigam
além do quê, sid não sabia de nada
e só fez merda
nem baixo ele sabia tocar. mas tocava
por que me preocupo com isso é que
não sei

isso começou para ser uma poesia
mas já no primeiro desverso não foi
dessa forma
como a pipoca que fiz
depois de identificar restos de fome
ainda
dentro de mim

the smiths, eu penso, é bom demais

terça-feira, 10 de maio de 2011

padedê de 1

é uma futura decepção
uma ilusão que crio
puramente por estar no cio
e me sentir no chão

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os covardes

Fodam-se os iludidos 
Os otários, os coitados
Que balbuciam palavras de outros 
Engolem-nas sem mastigar 
Cospem suas silabas tônicas 
Vomitam seus versos
E seguem sem compreendê-las

Malditos aqueles que se escondem sob a boa ou má capa de outros 
Covardemente protegendo-se do inevitável que é estar vivo -
A estes, o meu muito obrigada
Pego emprestado os seus restos de existência 
E talentosamente os teço em retalhos
Aumentando a minha em cem vezes mais 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Respiração

É incrível
você inspira,
a vida expira!

domingo, 20 de março de 2011

Pensamentos que inevitavelmente hão

Posso fazer o barulho que for, mas, no que me tocar intimamente, farei silêncio.

A eternidade consta no silêncio, pois só o que não é dito e ainda assim existe perturba a ponto de continuar vivendo.

O sofrimento nunca é sozinho; com cada parte de nós que morre, vai junto um mundo.

Fico extremamente perturbada com as paixões.
Uma Lispector não me vem com tanta intensidade.

Sempre que descubro que não sou Deus,
isso me dói um pouco.

O culto é uma questão de escolha:
se todos decidirem louvar um sorvete
sagrado será o sorvete

Eu queria ter medo de escovar os dentes para encarar tranquilamente um olhar.

sábado, 19 de março de 2011

Unanimidade covarde

Sempre que puder
escape
pois quem fica é quem
em pensamento
também fugiu

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Theodora e as três babás

Estamos no Rio de Janeiro
O ano é dois mil e cinco

Apresento Theodora:
Theodora é uma nada meiga criatura. Ela tem cabelos claros, olhos claros, xinga, esperneia, dita regras e profundamente filosofa do alto de seus nove anos.

Apresento Ruth:
Ruth é a babá obesa de Theodora. Theodora gosta de chamá-la por "gorda babá Ruth". Ruth chamava-se Roberto José, Ruth é um travesti que prefere ser chamado de coisa à homem. É de certa forma admirável que alguém sublinhe o peso como característica marcante de uma pessoa quando ela é, de fato, um travesti. Você se pergunta como então Ruth teria se deixado chegar ao ponto de ser obesa, se travestis sabidamente têm por costume a vaidade. Bem, Ruth gosta bastante de comer.

Episódio inusitado:
Um dia arrumava o quarto da criança e um caderno chamou-lhe a atenção. Não toque neste caderno, a voz forçadamente senhoril da pequena invadiu os seus tímpanos e arrancou-lhe da boca um grito desorganizado e fora de tom. Você quer me matar, Theodora (mão no coração). E você vai conseguir (mão na cabeça, respiração ofegante, suspiro).

Vamos à mais de Theodora:
Theodora é dessas meninas que não gostam de ser menina. Não penteia os cabelos, não faz balé e muito menos diz coisas agradáveis. Fala três línguas e tem nojo de meninos, como é comum quando se tem nove anos. Mas também tem nojo de meninas. Não brinca de boneca, lê - faltam duas peças para que tenha lido a obra completa de Nelson Rodrigues. Lê Nelson para aprender palavrões. Sabe citar todas as capitais. Mas não cita.

Aquele era um caderno de poesias. Não me pergunte, eu, bem ou mal, disse: ela filosofava. Fica muito bem escondido - estar à mostra naquele dia foi de um descuido raro. Theodora precisa que fique escondido; é isso ou admitir que dentro desse pequeno demônio existe sentimentalismo.

Muitos dizem que Theodora é uma criança difícil.
Estes são os resultados de uma enquete informal:
70% acha a menina mal educada
30% recusou-se a participar da enquete

E também alguns comentários:
1) "Ela nunca deu bom dia" - inspetora do colégio onde estuda. "Nem sequer um sorriso" - completa a faxineira.
2) "Por que não somos amigas? Porque ela é esquisita" - colega de classe da Aliança Francesa.
3) "Theodora não está nos padrões da normalidade" - especialista.

Mas Ruth limita-se a dizer: Theodora é. Não tem medo de ser. Como eu (as duas mãos no peito, sorriso abobado).

- Gorda babá Ruth, saia daqui.
- Você quer cafuné?
- Não.
Geralmente é o sinal para que Ruth se posicione e Theodora deite sobre as suas fofas pernas cruzadas, que de tão fofas mal conseguem cruzar-se. E Ruth começa a contar uma história. Imagina que você está dentro de um navio bem grande, bem bonito, bem divertido. Você consegue voar e, quando voa, sente uma cosquinha na barriga, então você vê todo mundo de cima, como se fossem formiguinhas. Theodora fecha os olhos e parte para esse mundo. Lá nada existe - é disso que ela mais gosta. Busca um lugar em que não exista.

A vida é um cão dos diabos. Ruth vai embora na semana que vem. Nunca mais volta. Theodora passa os dois dias seguintes crescendo. Com a sensação de que precisa ser amável, senão todas as gordas babás vão embora.

Aqui entra a mãe de Theodora, que precisa entrar porque ela é quem contrata qualquer babá. É linda e psicopata.
A próxima babá é japonesa.

Apresento a próxima babá:
Yo Kinimowa Shugharita é a babá japonesa. Theodora a chama de "próxima babá japonesa".
- Próxima babá japonesa, saia daqui.
(Chora a babá)
- Você está com algum problema?

Geralmente era o sinal para que Ruth se posicionasse e Theodora deitasse sobre as suas fofas pernas cruzadas, que de tão fofas mal conseguiam cruzar-se. E Ruth começa a contar uma história. Imagina que você está dentro de um navio bem grande, bem bonito, bem divertido. Você consegue voar e, quando voa, sente uma cosquinha na barriga, então você vê todo mundo de cima, como se fossem formiguinhas. Theodora fecha os olhos e parte para esse mundo.
Mas a babá japonesa ficou ali. Chorando.

Semanas passam-se.

Theodora a mata porque, entre outros motivos, não consegue falar seu nome.
- Babá é o tipo de coisa que se precisa chamar pelo nome.

De repente uma desilusão.
Um desgosto.
Nenhuma outra babá a faria feliz.

Theodora vira babá. A sua própria babá. E se chama de "a minha Eu Mesma babá Theodora"

domingo, 13 de fevereiro de 2011

meu coração, a estrela principal deste blog

meu coração está apessegado
e como pêssego apodrece
e escorre por entre dedos
que não o querem segurar

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

pele?

a dificuldade do AMOR é precisar sentí-lo
por que AMOR é coisa que,
inevitavelmente,
hora ou outra,
volta-se a precisar sentir -
e aí começa-se a buscar
até numa vasilha chinesa.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

da forma que as ondas vão, nem parece que elas vem

A janela de todo mundo está molhando da chuva que, enquanto cai, alaga a Gávea.
A Gávea alaga logo quando tem dessas chuvas.
É noite. Eu estou no mar. Acabei de terminar a areia. Meus pés conhecem o quente da água. Deliciando-se, molhando-se, querendo-se molhar inteiro. Eu continuo andando. Agora quem se apresenta ao oceano são minhas lisas e longas pernas. Entram ousadas. Como que assim fossem encontrar a felicidade eterna. É quando a água se atreve pouco mais – sobe-me à barriga em um arrepio cronometrado.
Quem disse que onda não sabe contar.
Pés, pernas, barriga, mãos, braços e pescoço imersos. Estou muito parada, tanto quanto a água queria estar quando eu me mexia. Meu olhar está fixo nas ondas de trás, nas ondas de longe, que a olho nu fica difícil de ver.
Ai, se eu tivesse um binóculo.
Continuo andando. Estou sentindo em meus lábios um sabor salgado que me provoca sede, mas agora me dá uma preguiça de voltar. Molha-me o nariz o mesmo líquido e presumo que fechar os olhos é normal. Fecho-os. No mesmo embalo vão-me os cabelos; perco-os, de tão pesados. É um mergulho. Continuo andando. Eu não luto a meu favor. Lava-me e leva-me, mar.

sábado, 22 de janeiro de 2011

a única coisa que espero de mim

a única coisa que espero de mim
é distância.

vasilha

pela primeira vez na noite estou vazia
não estou plena mas também não tenho preguiça
tenho dificuldade de discernir o que é bom do que é mau
e estou vazia

pela primeira vez fiz tudo o que devia
mais tarde que devia mas também não deixei de fazer
geralmente nem me cobro
essas coisas

estou longe de mim fazendo todo tipo de sacrifício
em vez de cantar eu calo que é pra poder poupar
em vez de berrar eu sussuro que é pra poder poupar
e acabo gastando

mesmo assim estou aqui - vazia como quem não sabe
como quem ainda não descobriu e como quem está nervosa
a ponto de descobrir, quase descobrindo, mas ainda
não descobriu

preciso de um remédio que não vende
- por isso não tomo
então não melhoro -
eu quero uma solução hipocondríaca para esta vaziês

há muito eu não sei o que é olhar para alguém
e realmente me importar.
mas nem isso importa
quando estou vazia.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

duas coisas que venho pensando pela madrugada

#um:

uma menina

ela é do tamanho do seu sonho: um metro
e setenta e sete
ela tem os cabelos como os do seu sonho: curtos e castanhos
ela tem as mãos do seu sonho: grandes e firmes mãos
ela tem fala como a do seu sonho: “estou aqui”
ela tem tamanho mãos cabelos fala
– e não tem
ela não sonha o sonho do seu sonho
o seu sonho sonha com

outra menina

#dois:

escrevo na tentativa de compreender o que é isto que me avassala
que me assalta e me prende tão forte contra a parede de mim mesma [e que não me deixa ir]
peço desculpas a qualquer eu que esteja indo embora
por estar cansada –
mas as outras eu vão ficar

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

do esquisito fato de gostar do ostracismo

É esta a continuidade que tolamente me proponho.

Proponho-me a dar, mesmo sem receber, a estar, mesmo sem me fazer notar, a sonhar, mesmo sem perspectivas de realização, a poetizar, mesmo sem ser lida. A cavar sem areia.