você que já veio e você que está

domingo, 25 de setembro de 2011

despistando o gado

em algum dia
no meio de algum lugar
outra cidade, não esta
pude deitar perto dele
e os olhos pesados de mágoa
cílios de baixo beijando os de cima
o inerte corpo em estado de espera
espera pelo quê?
o balanço do carro em movimento
a expectativa do corpo e a do corpo dele
o barulho da respiração do corpo e da do corpo
dele
cabelos pincelando o banco de trás
cabelos emocionados
as mãos estacionadas e umas vinte
incertezas como aquelas do meio da noite
um final de tarde quase quente e
encantadoramente rosa
não vejo porque falar do coração
é óbvio que havia coração
no maior repente
uma mão extremamente sólida pesa
sobre minha cabeça
tímida e insegura mão
e devagar, e mais devagar ainda
ensaia um samba pra lá e pra cá
enquanto sente
se é bem vinda
vê que é
um sorriso de cada lado
um na boca e um na boca dele
que vi de olhos fechados
então o corpo se arrastou
para longe de si - perto dele
até alcançar dentro do dele
fundir-se ao dele
era tão amor
que era amor

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

juntando num só

sonho com a poesia
que todo dia
durma nos meus lábios
e acorde nos teus
escureço minhas manhãs
fechando os olhos
me digo que é noite
eu não existo
longe da saudade
de você

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

canário

olhe em torno
as grades
ferrugem
este cenário
qual gaiola
prende
este canário
nesta história

apertadinho

cai, chuva da noite
é a lua soluçando
e derramando saudade
pelos olhos

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

te vi me olhando

veio e tocou
as cordas bambas
do desafinado
violão que sou

e depois se foi
dono do direito de ir
o de vir
não usou

pelas ruas de ipanema
sofro inteira
pelo menos não rio
pela metade

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

estacionamento

Teus olhos
dois tratores castanhos
eu muito parada
para que me atropelem