você que já veio e você que está

domingo, 29 de abril de 2012

nome na etiqueta

aqui em casa tem um lugar onde tudo pode. uma caixa sagrada, q guardo dentro do bau q fica do lado da cama q dentro de poucos dias jogarei fora. enquanto isso la dentro vivem desejos dependurados, feito anjos, feito gente indo se jogar da janela. bando de suicidas. desejos-bomba. ali tb moram minha covardia, essa essenciabitual, meu percentual escroto, as coisas q faria a pessoas q amo sem ligar a minima, pecados capitais, os sete, q dirá luxuria. pra q boca tao grande?, pra q dedos cismados?. estamos falando de uma genialidade sem limite de ser genial. q caminha ao longe, muito ao longe da estupidez, num campo desértico q ninguém mais pode alcançar. dentro da caixa sagrada, tudo pode. aqui, palavras são o objeto, o fato, o feto. q logo aborto.

domingo, 22 de abril de 2012

limão e sal vão com tequila

repare em como bêbados olham
rostos desmanchando sob o próprio pescoço
caras e garotas
querendo saber quem ama quem
isso pode ser lucidez

tem gente uivando à noite
ou dolorosamente ou gozando
tudo modos
de chamar & medo
de gostar

a dor de se ver na rua cabelos parecidos
com os de quem se quer agora
roubando metade do seu edredom
& confundi-los conscientemente
conscientemente confundi-los
uma dor promíscua de
tão intemporal

tem algo de cemiteriesco no pós-amor
- e isso não tem a ver com um coração intranquilo -
pense em paisagens desérticas & domingos
& ser negado por alguém e isso não
cheirar nem
feder
& almas que não têm mais bombas
para despejar
em outras almas

daqui a uns dias cê vai fazer aniversário
& consigo me lembrar de estar esticada numa cama
que nem sua era
& você sentado de costas para mim
como de hábito
pouco se fodendo pro poema do bukowski
que eu quis mostrar
alguma coisa sobre
deus
fiz questão de esquecer

versos sobre você
sempre estragam as mi
nhas poesias
estou cansada de saber disso - mas é mais forte do que eu - qualquer coisa é
eu não me pergunto mais a seu respeito
embora às vezes sonhe com toda essa
merda
& confunda isso com dor
{tem coisas engraçadas sobre mim
eu nao pratico religião
mas gosto de CHOCAR pessoas
dizendo
palavras em hebraico}

pense em duas meninas
a outra andando na direção contraria sem olhar para trás
enquanto uma
sorri desenfreadamente e faz barulhos em tons agudos
& acena para você
& te chama para jantar &
te oferece uma massagem com
happy end
cague para ela e
pense em tudo o que a outra pensava quando
se afastava

inevitavelmente chega a hora em que nem todos os
seus sinais são sagrados para
alguém
& chorar não é tão fácil & navegar não é preciso
as últimas vezes que te tentei foram por 1 singular
motivo:
o que tinha a perder a não ser tempo
& ritmo?
mas agora eu tomaria um chá
& acharia mesmo simpático você não estar aqui
sentado de costas com
uma barba de 3 dias que eu
nunca poderia conhecer.

terça-feira, 17 de abril de 2012

coisas

existem coisas
como conversas a dois na madrugada
estupros e filmes sobre estupros
catequizações com ou
sem religião
coveiros beberrões de camisas xadrez
que não dão a mínima

existem coisas como
se enganar à respeito da melancolia
de alguém
- anjos dançando rock -
se enganar à respeito da anjabilidade de alguém

existem
coisas como copacabana
morar em copacabana
amar copacabana ou
simplesmente passar de ônibus
por copacabana

existem coisas como rejeitar
flores de rapazes de estatura baixa
e dizer que as enfiem
no cu
existem coisas
mais antigas que a
indiferença

existem coisas como estar errado
mais uma vez
rezar para um deus de lego
rezar para um deus power-ranger
existem coisas
como juramentos
e quebras de juramentos

existem
coisas como
fechar os olhos para ter visões
pessoas que reviram lixos
pessoas que miam para gatos
pessoas que andam com araras pousadas em
seus antebraços

existem coisas como mais
de 1 caso de esquizofrenia na mesma família
coisas como agnósticos e diagnósticos
coisas como deus
filósofos
cientistas
& tabagistas
& empresários

existem coisas
como beijos ótimos
e beijos parecidos com agulhas
gelecas
máquinas de compressão
plantas carnívoras

existem coisas como caras
de bigode
que ficam legais
e caras de bigode que
ficam parecendo grandes bigodes
e não caras de bigode

existem
coisas como tomar
cachaça
tomar dores
tomar elevadores
& coisas como - diante de tudo -
tomar notas

existem coisas como poesias boas
e ácidos de má qualidade
o amor e ter um cotovelo em que esbarrar à noite
e a magnífica
inconsútil
pura
solidão

e todo o tipo de outras coisas.

domingo, 8 de abril de 2012

sobre a solidão I

entendo por força de experiência o que significa amar a solidão se se deseja produzir em si mesmo alguma espécie de nascente de criação. as pessoas têm dificuldade em estar sozinhas. me pergunto se elas têm medo de estar sozinhas ou se desconhecem a profunda ilimitação de que são dotados os seus próprios corpos, mentes, almas. vêem tristeza na condição solitária. como se não reconhecessem em si mesmas nenhuma possibilidade de independência ou fugissem da liberdade, ou da libertação. como é que se pode dizer que se está sozinho dentro de uma sala de cinema, enquanto há pelo menos outras cem pessoas ao seu redor? o que significa estar "sozinho"? quando você está "sozinho", dentro da concepção cultural do que isto signifique, está muito menos em uma posição exibitiva, significa, expositiva, que se mostra - e mesmo se encara -, do que aberto plenamente para tudo o que existe. deve, na teoria, ser algo contrário ao que se deve temer executar, que é a atividade em vez da passividade. quero dizer, é óbvio que acaba havendo o encontro de si, mas o verdadeiro, desta vez. o que reconheço naquilo em que me reconheço é a questão. a verdade é que estamos comumente arraigados demais em um "ter-de-ser" social, e não nos ocorre, em absoluto, que possamos desfrutar de outros tipos de experiência. o mais absurdo é que, diante da riqueza de tudo em volta, preferimos não estar marcados. o que mais me irrita são as pessoas sem noção de espacialidade, e existem mais pessoas deste tipo do que de qualquer outro. a falta de consciência sobre o próprio espaço que ocupam dentro de um espaço, isto me irrita. eu não tenho a obrigação de sair, mas ninguém tem a obrigação de ficar porque eu não saí.

continua.

sábado, 7 de abril de 2012

step 2: um riso quase invernal mas sem fogueira e marshmallows

tenho me encolhido tipo caracol
enquanto a vida, fora
tenho sentido pouco
sentidos poucos
tenho selado manhãs
passado tardes sentada na varanda
esperando alguma nuvem engolir o sol de uma
vez
tenho gostado de lavar os cabelos e de vê-los
secar no contravento
tenho esgotado a paciência
falado pouco
tenho percebido que venho há meses escrevendo sobre
nada
esta é a decepção do ano
tenho tido vontade de rasgar
todos os poemas
tenho rido dos amantes
um riso quase invernal mas
sem fogueira e marshmallows
tenho estado apática
estática e com gosto de abóbora
tenho parecido um pouco
mais laranja
tenho comido pra caralho
coisas que não podem fazer bem
e coisas que não podem fazer bem
têm me comido também
tenho saído da linha imaginária
tenho detestado estar perto de mim,
dentro então.