você que já veio e você que está

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Magnífico devaneio literário

Sentei-me na sexta feira passada em frente à lareira com os pés quentinhos dentro de uma meia de lã, enquanto segurava meu scotch, que ia bebericando daqui e dacolá. A noite tinha tudo para ser uma daquelas semiperfeitas, não fosse o frio excessivo.
O que me intrigava era como é que eu, literato e conhecedor de tudo que é vocábulo que sou, poderia não saber o significado da bosta daquela palavra. Tinha comprado um livro na semana anterior. Bem interessante, uma delícia de ler, daqueles que você lê trinta páginas corrido e nem percebe. Eis que quando chego na quadragésima oitava me deparo com a palavra mais estranha que já havia visto em quarenta e dois anos inteiros. Logicamente, isso foi me perturbando de uma tal maneira que, quinze minutos depois, eu já havia ido bater na porta da casa do Dr. Sibbers, meu analista. Não que um analista e um dicionário fossem geneticamente parecidos ou, até, uuh, a mesma pessoa/coisa. Na, na. É que Dr. Sibbers lia bastante. Mas o velho também não soube me dar uma resposta, o que me levou a um desespero maior ainda: se nem o Dr. Sibbers sabia o que aquilo significava, deveria mesmo ser alguma coisa muito oculta. Peguei o mais compacto dos meus jatinhos e fui parar imediatamente no Kansas, onde existe a maior Escola literária universal, até onde se sabe. Bati um papo com Harold, o diretor barbudo e, embora tenha ficado meio encabulado, não soube me dizer a solução para a minha dúvida. Ok, agora sim isso era de dar medo. Se Harold que era Harold...! Decidi ir mais além. Júpiter. Não sei quem foi o imbecil que disse que aquilo ali não era mais um planeta. Como não é? É um planeta autenticado. Procurei em todos os livros de todas as bibliotecas nacionais. Nada. Essa palavra não constava. Isso tudo estava prestes a acabar comigo, com o sentido de minha vida e, logo, com a minha vida mesmo. Sem saber se voltava ou não, se ficava ou ia, se chorava ou ria, parei num bar jupteriano e tomei pinga suficiente para não acordar tão cedo. Escorei-me no chão amarelo que parecia calçar todo o planeta, dobrei os braços sob a cabeça e me pus a soluçar, entre gritos desesperados contendo frases como "e agora", "só jesus" e "pro diabo!"
É claro que isso estragou definitivamente a minha noite.