você que já veio e você que está

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Casamento

Desde pequena venho possuindo essa inapelável posição de contrariedade ao absurdo final anti-feliz que costumam chamar casamento. E por mais que não desistam de repelir-me com frases do tipo “você ainda vai rir disso” ou “você ainda é muito nova para saber, como eu, que um dia ainda vai rir disso” – babaquices –, eu também, como de costume, tenho a mais absoluta certeza de que nunca irei me render ao matrimônio. Afinal, como a própria expressão, se um pouquinho mais sábia, já diria: não é feliz. É final.
Muito interessante é, para quem observa, assistir à degradação de um relacionamento a partir do momento em que este “evolui” para o passo nupcial. Não sei quem foi que nos veio com esta idéia, mas de fato é uma idéia péssima. Duas pessoas que nasceram em lugares diferentes, famílias diferentes, que possuem hábitos, tiques nervosos diferentes - fora as outras mil e trezentas diferenças que muito provavelmente foram inventadas justamente para separá-las -, definitivamente não podem estar “destinadas” a viver juntas. Dentro de uma casa.


Juntas, dentro de uma casa.


Só a idéia disso já me soa infernal o suficiente para que eu queira evitar somente o assunto por mais pelo menos noventa e sete anos – data oportuna para que não me restem mais bases físicas ou psicológicas para efetivar o ato.
É visivelmente a sentimentos que atribuímos o ato insano do casamento, contudo, é nesse exato ponto que consta o erro: basear nossas vidas dali até o final em aspectos sentimentais é não só louco como besta, afinal para tudo é necessário um, mesmo que pequeno e restrito, uso de Matemática.
Somando as cuecas imundas e espalhadas como pés de guaraná do seu querido marido ao número de vezes que ele preferirá olhar para uma loira mais alta e mais magra do que você em vez de para você ao fazer um daqueles raros passeios pelo singelo-e-quase-nunca-visitado-por-isso-tão-instigante – o que, assim sendo, é perfeitamente perdoável – lugar chamado rua, já temos aí, em termos de vantagem, -7 (menos sete).
E isso tudo ainda parece bobo quando se deve considerar que a “união feliz” precisa, para ser concretizada, passar também pelo Direito. O pior é que você, no fundo no fundo, quer queira quer não, sabe que a quantidade de tempo que você perde assinando papéis no dia mais feliz da sua vida não é nada comparada à que você perde assinando os mesmos papéis no dia do seu divórcio. A diferença é que na primeira situação você ainda podia contar com o apoio do seu amado marido, cujas feições ainda não lhe causavam náuseas.
A separação de bens, que parece ter entrado na moda, é outra coisa que definitivamente vem matando qualquer centímetro dentro de mim que ainda considerava a possibilidade da hipótese de quem sabe um dia vir a me... (não consigo proferir as devidas palavras). O que mais quereria eu – ou qualquer outro individuo do sexo feminino com um mínimo percentual de funcionalidade de escrúpulos – com um marido, que não os seus bens?
De qualquer forma, eu ainda prefiro ter que ir para a escola, para você ver em que nível estamos.