você que já veio e você que está

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

GENTE JOGUINHO


é engraçado como a loucura, a extrapolação, a fuga da lei, a fuga da regra, a dificuldade, o desafio exercem fascínio sobre. eis aqui um mundo onde dizer-se o que se sente é sinônimo de virar automaticamente, inclusive em percentual, desinteressante. vamos, escondam, crianças, o que pensam, o que querem, como, quem, quando, onde querem. não contem pra ninguém. o coleguinha da creche que te excitou (palavra feia), mariazinha, não conte pra ele. não seja fácil. não demonstre. não deixe. não permita.

eis aqui um mundo onde não se pode SER, precisa-se mistificar, mitificar-se. é isso - transforme-se num mito, e quem sabe assim. seja misto de mistério, mistério é sedução, mistério é charme, mistério é in. ninguém se interessa pelo óbvio. mas o que de realmente autêntico pode não ser óbvio?, o perfume de uma flor não é óbvio?, as cores de uma bandeira não são óbvias?, que os braços sejam colados aos ombros, isto não é óbvio?, e, por mais que a corriqueirice nos anestesie quanto a grandeza de qualquer desses exemplos, em algum lugar podemos reconhecer o seu valor. 

estou falando de como seres humanos se relacionam a espera de serem, respectivamente, surpreendidos a todo momento pelos demais. veja bem, isso não pode ser. não somos máquinas especias. não somos máquinas mais especiais que outras máquinas. comemos bosta à rodo, nos conformamos por hábito, desenvolvemos rotinas por necessidade de segurança. e, ainda assim, petulante ou inocentemente - seja como for -, nutrimos a vibrante ilusão de que aqueles que queremos que nos surpreendam não comem também a mesma bosta que todo dia mandamos pra dentro.

o negócio é mais simples, estamos convencidos de que nossa própria banalidade é a única banalidade legítima. quem mais for banal, pelo menos assim, tão descaradamente, não merece um segundo de nossa atenção. ó, vida cruel. eis aqui um mundo injusto, vê. não temos paciência para as caras lavadas alheias, queremos é o carnaval alheio - a fantasia, a serpentina, as máscaras alheias. as únicas caras lavadas permitidas?, as nossas.

tudo o que nos interessa é o joguinho. eu não sou diferente. você não é diferente. mas, do jeito que somos pervertidos, contraventorezinhos, já já a própria exceção, o próprio significado que se atribui à irreverência, aquilo que vive nos encantando, nos vai cansar. e o novo in vai ser PREGUIÇA de gente que se distorça. que FINJA uma imagem tal. que OCULTE o que quer que sinta. PREGUIÇA de JOGUINHO.

cara, pode considerar isso uma oração. eu estou considerando.