você que já veio e você que está

segunda-feira, 8 de março de 2010

À Clarice Lispector

Será, Clarice? Que as meninas de coração – mulheres de corpo e de cabeça loucas, independente do sexo e da idade – se de seus romances esquecerem serão quem são de verdade?
Tu à Marília de três séculos atrás alegaste: esquece o Dirceu que esperas. Colhe de teu pranto um manto e te seca. Não é, porém, frio o teu pensamento? Feminista, fêmeo, férreo?
Quem dera quem amasse fosse pastor de suas sensações. Ao contrário. Sua'lma não acolhe calma; é chama em constante brasa e cheia de lágrimas e cheia de mágoas e cheia de vícios e obsessões a fio. Quem não, rio (levado pelas águas para um sempre tão nada quanto o que não se quer conhecer). Não, Clarice. Não diga à pobre que esqueça. Não diga que envelheça sem a esperança que alimenta: alimentar a esperança não a desmembra, alimenta-a. E desse sonho poderão nascer outros, poderão, aos poucos, surgir flores amareladas de tempo, que serão guardadas numa gaveta. Não diga, Clarice, a ela que esqueça. Não diga a ela que esqueça. E não esquece também.