você que já veio e você que está

quinta-feira, 23 de junho de 2011

porque podia doer demais

eu me afastei,
porque podia doer demais
deixei de olhar,
porque podia doer demais
andei na direção contrária,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu me sentei na pedra de um degrau
e apoiei a minha única cabeça sobre os meus dois braços,
cruzados,
e chorei umas quatro ou cinco ou seis lágrimas
que seriam melhores do que o que viria
quando começasse a doer demais
e sequei os meus dois olhos com outros dois
dos meus dez dedos
e em breve me levantei
mal acreditando no peso que a minha única coluna
exercia sobre os meus dois pés
me sentindo a pior das criaturas
rindo de mim
e me jurei que nunca mais voltava lá,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu neguei até a morte,
e como não morri, mordi
a língua
- está aí outra coisa que dói demais -
deixei de ouvir uma música,
porque podia doer demais
e de ir a um bar,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
doía
tudo o que pode ser
é
e nós: os mesmos. e as circunstâncias: iguais