você que já veio e você que está

domingo, 25 de setembro de 2011

despistando o gado

em algum dia
no meio de algum lugar
outra cidade, não esta
pude deitar perto dele
e os olhos pesados de mágoa
cílios de baixo beijando os de cima
o inerte corpo em estado de espera
espera pelo quê?
o balanço do carro em movimento
a expectativa do corpo e a do corpo dele
o barulho da respiração do corpo e da do corpo
dele
cabelos pincelando o banco de trás
cabelos emocionados
as mãos estacionadas e umas vinte
incertezas como aquelas do meio da noite
um final de tarde quase quente e
encantadoramente rosa
não vejo porque falar do coração
é óbvio que havia coração
no maior repente
uma mão extremamente sólida pesa
sobre minha cabeça
tímida e insegura mão
e devagar, e mais devagar ainda
ensaia um samba pra lá e pra cá
enquanto sente
se é bem vinda
vê que é
um sorriso de cada lado
um na boca e um na boca dele
que vi de olhos fechados
então o corpo se arrastou
para longe de si - perto dele
até alcançar dentro do dele
fundir-se ao dele
era tão amor
que era amor