você também escreveria poemas como este e alguns
outros que vieram antes e virão depois deste se
quando se despisse pela manhã encontrasse por toda a
superfície de seus pensamentos chulos sujos solitários
hematomas roxos e verdes e amarelos
caso o seu cérebro se resumisse diariamente a um
congresso de sofrimentos e caso você se cansasse
de maquinar e maquinar e maquinar e maquinar e ma
quinar a todo e qualquer momento e não existissem
por aí mais túmulos como os de antigamente
as coisas em volta jazem muito menos do que eu
que interminavelmente solto óleo pelos olhos e este
óleo tem cor e ao que tudo indica sabor e direção
& o meu peito bomba de gás carbônico que cedo se
contrai à escuridão da ex-alma acesa
não lhe desejo a visão espectral que me cumprimenta
sonsa e copiosamente por cada novo dia e cada nova noite
e nem que tome sustos nas ruas que se seguem pelo bairro
e nem que fale tanto a palavra "caralho" e também não
lhe desejo que confunda alucinações com milagres
debruçada neste colchão meio mole penso em como
não quero nunca que você se sinta estranho e nem com
vontade de cometer as mesmas loucuras que eu, prefiro
que esteja sóbrio e se vista de coruja e me vigie quando
eu estiver anestesiada demais para sentir meu nariz escorrendo
nos meus sonhos você passeia vestido de azul & viaja pelo
mundo e também volta sem lágrimas ou correntes e o meu
amor não é o peso que você carrega quer esteja eu louca
minha cama lhe contém e você me contém e o seu sol contém
inteiro o jardim florido de minha nova alma reacesa.