Grita:
- Eu te amo.
Tapa a própria boca com qualquer mão. Olha para um lado e vê três amigas de braços dados, uma madame de sacola no ombro e umas outras nove mil pessoas. Resolve não olhar para o outro.
- Eu te amo, porra.
Pensa ‘que merda’. Pensa ‘o que, caralho, eu estou fazendo?’. Pensa ‘eu te amo eu te amo eu te amo’. Grita mais alto:
- Eu te amo!
Pensa ‘ok’. Tapa a própria boca com as duas mãos. Tenta correr para a direita. A senhorinha que assistia emocionada à cena dá-lhe uma bengalada empurrando-o de volta para o topo do banco. Esquiva-se. Tenta correr para a esquerda. Tropeça em três bebês e uma babá. Volta à posição inicial sem nenhum querer. Chega enroscado. Vai-se desembrulhando. Quando vê:
- Repete.
Pensa ‘puta que me pariu’. Pensa ‘coitada de mamãe’. Pensa ‘puto, Deus, seu puto’. Pensa ‘eu te amo eu te amo eu te amo’. Grita mais alto ainda:
- Eu te amo!!
Esconde o pênis. Olha para a mão que esconde o pênis. Sente uma bengalada nas costas e é empurrado à frente. É obrigado a levantar a cabeça. Encara Rosamaria.
- Repete, eu pedi.
Não diz nada. Olha para a barriga. Tenta se comunicar com o estômago. Nada. Fecha os olhos. Olha para dentro de si. Muita coisa. Não está em condições de escolher palavras. Não escolhe. Fica calado.
- Hein.
Olha