você que já veio e você que está

domingo, 26 de dezembro de 2010

a necessidade do estacionamento de corpos

pelo amor de deus, vamos ser crus um pouco. só assim –
sem jogos de palavras sem olhares torcidos sem roupas, mas, sem tesão,
apenas as criaturas paradas uma
diante da outra sem tocar-se entendendo-se só de análise,
vistas atentas e
carne acomodada,
eu pessoa me apresento a você pessoa.
nossas
pessoas agora podem socializar.
oi,
eu disse,
olá,
voce disse,
tentando comigo um aperto de mãos:
eu não deixei que você tocasse as minhas –
o toque é corrosivo
o toque é sujo
o toque trará o sabor do sexo
o simples toque de mãos
o objetivo é a frieza, o cálculo
que estejamos, sim, absortos.
vamos ficar crus despidos! enxergar fundo o que olho nenhum consegue
nem o esquerdo nem o direito nem o chacra nem o cu.
eu não te culpo pelo nosso profundo desconhecimento, eu culpo a
mim por não saber em quem pôr esta culpa.
tudo o que futuramente vier de você provavelmente me atrairá: um olhar desejoso de cama, um caminhar, um trote ou marcha
mas para que todo o resto funcione preciso de tempo parada
preciso de tempo parada te absorvendo e você me absorvendo
e nesta profunda absorção eu quero me sentir no direito de ser abduzida (por uma nave)
quero estar pura, neutra, para ser arrebatada por sensações
- eu te poderei ver como é e vice versa.
de outra forma
nunca seremos absolutamente nada
um para o
outro.

- depois de pensar sobre isso -

eu acho que não mereço
uma gota
do que quer que seja
a menos que seja
veneno,
por isso
não se acanhe,
ao contrário, sinta-se à vontade para me matar.