você que já veio e você que está

domingo, 8 de abril de 2012

sobre a solidão I

entendo por força de experiência o que significa amar a solidão se se deseja produzir em si mesmo alguma espécie de nascente de criação. as pessoas têm dificuldade em estar sozinhas. me pergunto se elas têm medo de estar sozinhas ou se desconhecem a profunda ilimitação de que são dotados os seus próprios corpos, mentes, almas. vêem tristeza na condição solitária. como se não reconhecessem em si mesmas nenhuma possibilidade de independência ou fugissem da liberdade, ou da libertação. como é que se pode dizer que se está sozinho dentro de uma sala de cinema, enquanto há pelo menos outras cem pessoas ao seu redor? o que significa estar "sozinho"? quando você está "sozinho", dentro da concepção cultural do que isto signifique, está muito menos em uma posição exibitiva, significa, expositiva, que se mostra - e mesmo se encara -, do que aberto plenamente para tudo o que existe. deve, na teoria, ser algo contrário ao que se deve temer executar, que é a atividade em vez da passividade. quero dizer, é óbvio que acaba havendo o encontro de si, mas o verdadeiro, desta vez. o que reconheço naquilo em que me reconheço é a questão. a verdade é que estamos comumente arraigados demais em um "ter-de-ser" social, e não nos ocorre, em absoluto, que possamos desfrutar de outros tipos de experiência. o mais absurdo é que, diante da riqueza de tudo em volta, preferimos não estar marcados. o que mais me irrita são as pessoas sem noção de espacialidade, e existem mais pessoas deste tipo do que de qualquer outro. a falta de consciência sobre o próprio espaço que ocupam dentro de um espaço, isto me irrita. eu não tenho a obrigação de sair, mas ninguém tem a obrigação de ficar porque eu não saí.

continua.