você que já veio e você que está

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Destino

- Você acredita em destino?
- Destino?
- É, você sabe: estrelas, céu, lua, magia...
- Desculpe, qual é o nome do senhor?
- Acredita?
- No nome do senhor?
- Em destino.
- Não sei... Acho que sim.
- Alex.
- Desculpe?
- Meu nome. Alex.
- Ah, sim. Prazer. Luana.
- Bonito.
- Gentileza sua.
- Parece com Lua. Acho que se tivesse te conhecido antes, gostaria de ter ficado te observando à noite há mais tempo.
- Desculpe...?
- Como costumo fazer com a lua...
- Ah, claro. Mas que é isso, não compare a lua com uma pobre mortal como eu.
- Comparar?
-... É.
- Nem que quisesse, daria.
- É. A lua é mesmo linda.
- A beleza da lua não chega aos pés da tua.
- Desculpe...?
- É, nunca vi nada mais bonito que a lua. Digo, até agora. Agora, tem você.
- Que é isso. Me deixa encabulada desse jeito!
- Mas eu não deveria! Não acredito...
- Em destino?
- Que uma moça bonita dessa nunca tenha ouvido isso da boca de ninguém.
- Já ouvi muita coisa, mas da lua, ninguém nunca me falou. É um absurdo.
- E o que é mais absurdo: falar da lua para você, ou de você para a lua?
- Desculpe... mas... não estou entendendo onde o senhor quer chegar com essa conversa.
- Não está entendendo? Mas como não? Sou tão direto, como não me entende?
- Não entendo porque me diz todas essas coisas...
- Ah, não? Pergunte para a lua!
- Para a lua?
- É.
- Mas o que tem ela a ver com isso tudo?
- Não acredita?
- Na lua?
- Em destino.
- Desculpe... não estou entendendo.
- O que não entende?
- A sua pergunta.
- Como não? É uma pergunta muito simples: acredita em destino?
- Mas por quê?
- Espere um minutinho.(Vira-se para o lado e fala com o outro homem)
- E o senhor?
- Desculpe...?
- Acredita em destino?
- Como assim, senhor?
- Destino, aquela coisa toda... sabe, predestinação.
- Ah, sim. Acredito, é claro!
- E acredita também na lua?
- Na lua?
- Sim.
- Ah, sim. Acredito, é claro!
- E no amor?
- Amor?
- É, senhor.
- Ah, sim. Acredito, é claro!
- À quantas vistas?
- Quantas vistas?
- Quantas vistas precisa ter o seu amor?

- O meu amor?
- Sim, senhor.
- Ah, umas... três?
- Três vistas não seriam demais para um amor, já que até nós, humanos, os seres mais complexos, temos apenas duas?
- Duas?
- Duas vistas.
- Duas vistas...?
- Ou por acaso o senhor não sabia que tem dois olhos?
- Ah, sim. É claro que sabia!
- Pois então. Se nós temos duas, porque o amor tem que ter logo três?
- Não sei...
(Vira-se para a mulher novamente, que prestava atenção na conversa. Diálogo entre a mulher e o homem).
- Pois saiba que o meu amor tem uma só.
- Uma vista?
- Uma.
- Uma só?
- Acredita?
- Em destino?
- Que te amo.
- Mas já?
- Pois, já.
- Nem me conhece!
- Pois é, acredita?
- Que já me ama?
- Em destino.
- Em lua, estrelas...?
- E em amor?
- Pode ser.
- Posso mesmo?
- Pode o quê?
- Ficar te olhando.
- Mas o senhor é doido? Nem me conhece! Estamos aqui, nós três, eu você e... ele, nos vendo pela primeira vez! Como pode querer me amar logo assim?
- Querer, eu não quero...
- Então porque pediu?
- Porque agora já amo, e pronto! Mania essa de ficar complicando as coisas.
- E que é que eu digo agora?
- Ah, não sei. Diz que me ama, assim fica mais fácil.
- Fácil? Não entendo.
- Tem certas coisas que não se entende mesmo.
- Tem?
- Tem. Essas são apenas algumas delas...
- Essas?
- Amor, magia, estrelas, a lua, o céu... O destino.
- Destino?
- Não te falei dele ainda?
- Já, mas...
- Então, acredita ou não?
- Em destino?
- Em mim.
- Acreditar no que?
- Que amo a senhora.
- Ama? Mas por que?
- Por causa dele.
- Dele (pensa que está se referindo ao homem que está sentado ao lado)?
- Do destino.

Yasmin Gomlevsky