você que já veio e você que está

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ladrões

(Clima tenso, meio sombrio. A e B estão dentro de uma sala do FBI onde continuam fazendo os seus negócios, mas com o máximo de cuidado, por causa das câmeras que os vigilam)
A- O que você me sugere, então? Eu hein!B- Já olhou nos cofres?A- Até no telhado, porra!B- E não encontrou?A- Se eu tivesse encontrado, você acha que eu estaria aqui. Com você, conversando?B- Procura perti da Bahia. Ouvi dizer que. Tudo que some, geralmente, vai parar perto da Bahia. Não necessariamente alguém leva para lá. Simplesmente aparece lá. Entendeu? Vai por mim. Vai que está!?A- Por que não vai você? Como se a Bahia fosse na esquina. Hum! Talvez até possa estar no Ceará. Vai lá! Quem sabe encontra! E, se encontrar, liga e avisa. Tá? Que aí sim, eu te encontro lá. Na Bahia. Porque se você encontrar no Ceará, eu te econtro na Bahia. (ironizando) Que é tudo a mesma coisa, né?! B- É que uma tia minha perdeu um anel de di... (é interrompido)A- (baixo) Tem câmeras por todos os lados, aqui. Se eu fosse você não sairia falando em (sussurrando) diamantes (voltando ao tom baixo normal) como se fossem água. Não aqui. B- Eu posso ir preso. Qual o problema? Eu não tenho família, mesmo. Você, não - (incisivo) Você, não. (voltando ao ar normal) Mas, de verdade. Procura perto da Bahia. Ou então, tira a bateria do seu relógio. Vai que está! Perdeu um anel de diamantes - viu? não houve nada - e achou lá perto. Da Bahia, mesmo. Por isso que eu te falei! Foi com boa intenção. Não precisava fazer pouco. Se quiser, vai. Senão, é pena. (entra C)C- Mas o que foi, por aqui?A- O... (é interrompido)B- (ao mesmo tempo) O que você acha? O que mais. Diga! Quantas coisas podem sumir na Bahia?A- Nada sumiu na Bahia, tonto. Sumiu o...B- (para C) Diga!A- E você (para B) inventou que era para procurar perto da Bahia. C- Onde já se viu.B- Se quiser, ajuda a procurar. Que atrapalhar não vai!A- E quem está atrapalhando aqui? Só vejo um. Ora! C- Já estou de saída. É que estava passando no corredor e ouvi algo sobre... diamantes.A e B- Ele ouviu algo sobre diamantes.B- O quê?C- Você é um medíocre. Ouvi que. (para A) Alguma coisa sobre a bateria do seu relógio.

A- (para B) Um espião?B- (para C) Quantos anos você tem? Trabalha aonde? E a graça? C- Meu nome é trabalho e, sobrenome, função. Fui (sai)A- Algo nele que eu não gosto. O ar.B- O ar é de um sonso. Deve estar mesmo é com ele! E ainda me veio com essa do diamante da tia Dalva. Ele...A- Ele ouviu. Mas duvido - duvido que esteja sozinho. Deve ter um bando, uma gangue.B- Criminosos? Assassinos?A- Ladrões! Mas burros! Mandaram o mais burro deles! O mais. Devem ser uns amadores. Dava para ver no olhar a bandeira de aspirante que o rapaz deu. Não devemos nos preocupar. B- Mas, como não? Chamo é de sonso, mesmo! Esfregou isso na minha cara - isso, seu ar de sonso! Disse que ouviu tudo! Mas, como? Ninguém sai entrando desse jeito na sala dos outros. Nem mesmo beteu! Dizendo ter ouvido confusão! Confusão tem em todo lugar! Entrou justo aqui, por quê?A- É que você é medíocre, mesmo. Na Bahia. É, por que não. Vamos nos concentrar no que interessa. Será? Vou tirar o relógio. Depois quem sabe até ligue para o JJ. Mora na Bahia, é meu amigo.
B – JJ, na Bahia? Mas quem foi que falou em JJ? (misterioso) Você conhece a (olha para os lados para ver se alguém está ouvindo) Hilda Pâmelom?
A – (curto e grosso) Não.
B – Pois eu vou lhe apresentar. Tem uns dois metros, é grandona, mesmo. Umas mãos firmes, um abdome definido.
A – Um homem?
B – Não mais. Pois bem. Se você ligar e perguntar, talvez ela saiba onde foi parar.
A – E por quê ela saberia? B, você, por algum acaso, sabe de alguma coisa que eu não sei? Se souber é bom ir dizendo, que depois vai ficar ruim para você, e eu posso garantir!
B – Epa, epa, epa, tá me confundindo, parceiro? Eu sou teu amigo ou não sou? Ora! Só estou dizendo que. Bom, se você quiser – pergunta à Hilda. O telefone eu te dou logo mais. Ela deve saber.
A – E por quê?
B – Porque ela sabe de tudo. Tudo.
A – O que ela é, afinal? Uma vidente daquelas que trazem a pessoa amada em três dias? Aposto que ela não sabe que. (o telefone toca)
B – Telefone, essa hora?
A – Deixa que eu atendo.
(A e voz, no telefone, em off)
A – Alô.
V.O.1 – (É alguem que sugere ao publico ser um comparsa de A, que supostamente estaria conspirando contra B) Você sabe quem está falando?
B – Quem é?
A – (hesitante, disfarçando, rindo) Ah, sei, claro que sei, vovó! Como não? E então, como vai a senhora?
V.O.1 – Péssimo. O paradeiro do (barulho de mau contato de algum aparelho eletrônico, talvez um microfone) foi descoberto. Precisamos achar um novo lugar para escondê-lo. Caso contrário, Hilda virá e.
B- Quem é?
A – O quê?
V.O.1 – Você não sabe quem é Hilda?
A – Não. Mas, tudo bem, vozinha. Deixe isso para lá. Mas me conte, e aquele docinho de abóbora que eu te mandei pela Zilmara?
B – Quem é?
V.O.1 – Está guardado aqui em casa. Não pode ficar aqui. Dá cadeia. Se alguém descobre. Estamos perdidos. Ouviu? – Perdidos. É coisa ilegal! Acho bom arrumar algum lugar logo para esconder esse diabo desse. E diz para esse corno aí do seu lado calar a boca. Faz uma coisa, vem para cá.
A – Estou indo (desliga o telefone. Para B). Vou ter que sair e já volto.
B – Para onde? E quem era?
A – A minha avó. Tchau.
(A sai e B faz uma ligação)
B – E aí? Encontrou?
V.O.2 – Encontrei! Encontrei, mal posso acreditar! Encontrei!
B – Ai, Deus é pai! Não acredito! Como você encontrou? Onde estava? Ahhh!
(Nesse momento surge uma interferência no telefone, e A e V.O.1 surgem na mesma linha)
V.O.1 – Já te falei. Tirei de onde estava e guardei aqui em casa. Agora vem para cá, porque tá demorando tanto com isso?
V.O.2 – Tirou de onde estava? Meu Deus! E agora??? Onde você colocou? Ah, tanto trabalho para encontrar e você simplesmente tira de onde encontro!
B – Espera um pouco, não foi você mesmo quem tirou? E quem encontrou? Quem encontrou e depois tirou? E agora, onde está? Você está meio variado das idéias.
A – (o único que parece pensar, entende o ocorrido e fica quieto, apenas ouvindo a conversa dos três e tentando mandar sinais a V.O.1 para que desligue)
V.O.1 – Mas eu já te disse que está aqui em casa. Quer o endereço, de novo? Rua Conde Joelson, número dez.
V.O.2 – Estou indo. (desliga)
(V.O.1 desliga)
B – Estou indo. (desliga)
A – Como é que você vai conseguir sair daqui, posso saber?
B – (Tira do bolso o que parece ser a cópia da chave da sala, que estava trancada) Eu sempre consigo tudo.
A – Safado! Filho da puta!
(Quando B abre a porta, leva três tiros e cai morto. 2 guardas entram e levam A pelo braço, até a saída de cena)