você que já veio e você que está

domingo, 19 de fevereiro de 2012

tem coisas que eu espero que aconteçam, outras torço pra que aconteçam

tem dias de que você se lembra como se tivessem acabado de acontecer, e aquele era um. lá pelas nove horas saímos do teatro e ficamos esperando ali fora na rua chegar a condução pra gente cair fora, e de lá iríamos jantar, ou cada um iria pra onde quisesse. eu tava num puta mal humor, e tinha motivos pra isso, mas pelo menos tinha comprado um fone de ouvido rosa com um desenho de caveira, e aquilo poderia facilmente salvar o meu dia. a van chegou e todo mundo foi entrando. eu sentei no meio, bem no meio de uma galera extremamente risonha e falante e sem nenhuma noção de projeção, porque projeção também se trata de só usar o volume de voz necessário a cada distância, inclusive às pequenas. o fone que eu comprei era uma merda, eu só comprei porque era rosa e tinha um desenho de caveira, e isso é o tipo de coisa que deixa uma menina como eu louca, e é o suficiente pra uma menina comprar um fone de ouvido. isso acabou de me lembrar o ravel contando do fone de ouvido fodão que ele comprou e que é uma coisa de menino daquelas que um menino grande que já ganha dinheiro compra. ele provavelmente nunca entenderia isso de comprar um fone ruim só porque é rosa e tem um desenho de caveira, mas isso eu não espero que ele entenda. coloquei feeling good na versão da nina no último dos ÚLTIMOS volumes e ainda assim continuava ouvindo aquelas vozes insuportáveis e esganiçadas de mais de três mulheres sem a menor sombra de técnica vocal. eu rezava feito religiosa pagã praquilo acabar rápido. tinha aquele cara. bem atrás de mim. eu gostava, e pra caralho, dele. naquele dia percebi nos olhos que ele comia um monte daquelas mulheres que andavam junto com a gente, na verdade quase todas, e talvez estivesse até se apaixonando por algumas delas. e tinha também uma amiga dele na van, que é fotógrafa, naquele momento eu não tinha quase nada contra aquela figura, mas não disse oi nenhum. e não só não disse oi nenhum como pedi licença umas três vezes pras pessoas que tavam no meu caminho e saí desvairada e sozinha rumo ao restaurante. tem horas em que eu preciso ficar sozinha, completamente sozinha, mas nessas horas sempre tem alguém enchendo a porra do saco, e nas outras também. alguma hora depois eu sempre lamento essas minhas mini fugas, nisso de viver mergulhada dentro de mim eu quase sempre passo por grossa ou mal educada, são efeitos que qualquer um odiaria causar, e alguns acabam causando. eu sempre peço desculpas por dentro, e isso quase me basta. e sigo. aquele era um desses exatos instantes em que você tem certeza de que tão falando mal de você, saca? na hora eu não me importei, e tava colocando todo mundo no mesmo saco, sem a menor piedade. esses dias tenho saído na rua no carnaval. saio às 16:00 e volto às 23:00, leio alguma coisa, durmo até as 3:00 e aí entro no computador. tô lendo assim falou zaratustra e relendo fabulário geral do delírio cotidiano. os últimos dois dias foram assim. gosto dessa solidão. a única coisa que me mantém de pé durante o dia é ficar por aqui de madrugada, lendo todo o tipo de blog que eu puder, como os que eu sempre leio, o do ravel, o do bortolotto, o do linguinha, o do bruno bandido, os de uns caras de porto alegre, de floripa, de brasília. e uma pá de outras coisas. sinto que estar aqui escrevendo às 5:21 da matina é a minha única forma possível de felicidade. outro dia li no blog de um desses caras alguma coisa do tipo "faz poucos meses que acompanho o trabalho dele, uns seis". eu fiquei pensando em como seis meses me parecem muito tempo. acho que ser jovem é mais ou menos isso, enxergar eternidade em meia dúzia de meses. cara, eu espero que deus ou um desses caras que trabalham com ele algum dia me coloquem cara a cara de novo com as pessoas pra quem passei uma má impressão na minha vida. e então dizer pra elas que estavam certas, mas que eu sinto muito por isso, de fato, e que raramente é pessoal. ainda tô tentando descolar um jeito da porra do fone funcionar direito, porque ele é realmente muito fofo, um disperdício né.