você que já veio e você que está

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

um carnaval curioso este

esses dias acabei entrando no shopping leblon pra fazer xixi. é carnaval, de modo que o rio de janeiro fica tomado por todo o tipo de gente, e um número e uma espécie grotesca de gente. muito bem, subo a escada rolante e na minha frente vão duas japonesinhas, dessas magrinhas baixinhas com as caras achatadas e celulares que se parecem com robôs e roupas desenvolvidas pela nasa. não, na verdade uma delas usava um shortinho jeans pouco menos espesso do que um cinto de caubói. daí ouço soar atrás de mim uma voz salivando do tipo voz de bicho no cio, que disse, "olha as poupinhas". era um segurança da porta falando pro outro. o cara tava fissurado naquela bunda. e não tinha nada de extraordinário naquela bunda, é só que ela tava de fora. eu acho muito engraçado, e sempre faço quando tenho a oportunidade, falar alguma coisa escrota em português na cara de estrangeiros. tudo é engraçado, desde você segurando a risada até a cara de desentendidos que eles fazem. a única coisa que eu consigo pensar no verão é em como os dias estão quentes pra caralho. então entrar nesses shoppings que ligam o ar condicionado no máximo é delicioso, mas os caras exageram, e quase sempre fica o mó frio. depois do dia do xixi eu ainda fui ao shopping leblon de novo, dessa vez pra almoçar, porque não tinha nada que prestasse em casa. resolvi comer no bob's. foi aí que uma coisa muito curiosa aconteceu. parece que essas grandes empresas contratam pessoas, dessas que fazem bicos, pro cargo de CLIENTE MISTERIOSO, que funciona como uma espécie de espião. o cara vai lá disfarçado de cliente comum e vê como as coisas tão funcionando e anota tudo e repassa pros donos das empresas. pois então, entrei na fila do restaurante e esperei a minha vez. pedi o meu lanche e enquanto esperava chegar alcancei o moleskine dentro da bolsa pra rabiscar umas coisas que cruzavam a minha cabeça, quando pela visão periférica percebo três atendentes enfileiradas na minha frente murmurrando "aí, shirley, essa aí que é a cliente misteriosa", "não, né nada", "é, tô falando que é, ela tá anotando tudo o que a gente tá fazendo. quer ver? moça, você não é a cliente misteriosa?", não tenho como não me aproveitar no momento, "talvez...", "AÍ SHIRLEY, FALEI QUE ERA ELA", "a senhorita quer que eu aumente a coca? fica de graça", "tu tá tentando subornar a cliente misteriosa, shirley?", abaixo a cabeça para rir e completo o que estava escrevendo, "OLHA AÍ, ELA ACABOU DE ANOTAR QUE VOCÊ TENTOU SUBORNAR", "não se preocupe. eu só vou sentar ali e provar esse hamburguer, e se não estiver bom vou mandar alguém aqui atrás de você, hein, shirley", e peguei minha bandeja e cruzei a praça de alimentação do shopping, rindo pra caralho. são coisas como essa que não deixam a gente acreditar no fim do mundo. o ovomaltine é um clássico do bob's, e eu amo ovomaltine, mas raramente peço ovomaltine. porque sempre fico com sede, então acabo preferindo pedir coca cola mesmo. mas só de saber que o ovomaltine tá lá, eu já fico tomada por uma espécie de satisfação gastronômica. e daí tem as pessoas que tão com saudade ou amam alguém que não tá nem aí pra elas ou pra quem elas não tão nem aí embora amem, e vão e escrevem livos do tipo o amor é um cão dos diabos. reli esse aí na semana passada, mas na verdade ele funciona como uma espécie de bíblia pra mim, então sempre volto nele hora ou outra. e aí fiquei pensando no seguinte, sempre vão ter essas pessoas que não dão a mínima, e isso é porque elas dão o mínimo. numas de reler bukowski e de continuar "comendo insônia com blogs", como identificou sabiamente meu querido luiz paulo nenén, ilustre iluminador carioca, acabei sacando que tem escritos que se você isolar, parecem geniais, se você enfiar num contexto são só uma passagem legal, e se você não escrever viram ouro, mas fora do mercado. e li um outro troço do borges dizendo sobre a inutilidade das estéticas, dizendo que estética não passa de vaidade, dizendo que é uma completa abstração e tal. eu não poderia concordar mais. quero experimentar todos os tipos de "estética". existem pessoas e pessoas têm "estéticas" e "estéticas" têm sua origem em outras pessoas. tem toda essa geração beat que se segue, os hemingways e célines trouxeram os kerouacs, cassadys, ginsbergs, que trouxeram os morrissons, que trouxeram tudo quanto é bêbado e poeta. digo, os bons. e apesar das controvérsias eu ainda acho que é muito mais fácil ser um bom escritor do que um bom bêbado.