você que já veio e você que está

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Café para o contador - textículo

- Já vai, seu Alfredo, já vai!
Quatro minutos e trinta e três segundos já haviam se passado desde que dona Alfreda, a secretária de nome homólogo ao do patrão (só que, obviamente, no feminino) deixou a sala de reuniões para passar um café.
Entre a saída e o atual momento, dona Alfreda já havia deixado e adentrado a sala umas trinta e sete vezes, cada nova vez com uma nova xícara de café.
- Café, dona Alfreda, tem que ser preto. Preto! A senhora me escuta bem: eu, há cinqüenta e dois anos, sou um contador renomado e respeitadíssimo por qualquer um que me circule. A senhora veja bem: como é que eu, Alfredo, contador, posso tomar um café amarelo, dona Alfreda? Café, dona Alfreda, tem que ser preto.
A coitada da secretária já não sabia mais o que fazer para deixar o café negro como fazia questão o patrão. Sempre que passava o pó, ele ia adquirindo uma cor amarelada que, comprovadamente, seu Alfredo desprezava. Abriu a porta da sala e pôs o pé esquerdo rente à porta, como quem tem certo receio de entrar. Pela trigésima oitava vez, mas esta, bem menos amigável do que outrora, dona Alfreda se punha frente ao patrão.
- O senhor quer o seu café preto, seu Alfredo? Enfie-o na merda e veja se o fica.