você que já veio e você que está

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Rominho

Eu sou um cara bastante moderno. Super gosto de todo mundo, super me enturmo, super conto piada, super rio, super sei conversar sobre qualquer coisa.

Mas nem sempre foi assim.

Rominho, como me chamavam há uns quinze anos atrás, sempre foi um menino - assim digamos - problemático. Eu, quando era pequeno, usava óculos, aparelho dentário, tinha poros entupidos o suficiente para fazer brotar espinhas no mundo inteiro e um nariz que se parecia mais com um relevo bem no meio da minha (nada harmônica) face. As garotas nunca foram um problema para mim. Isso porque para serem um problema, precisariam ser alguma coisa para mim. E todas, todinhas elas faziam a mais absoluta questão de não ser nada para mim. O meu cabelo sempre foi uma coisa bem estranha. Bem estranha. Meio que nunca foi, de fato, um cabelo. Era só... uma coisa de qualidade duvidosa pairando sobre a minha cabeça. Quando se é criança, não se dá a mínima à aparência. Você pode estar de pochete, raider, boné e regata que aquela sua amiguinha loirinha, lindinha, magrinha, cujos peitinhos já estão - precocemente - começando a despontar, vai continuar querendo ir brincar de gangorra contigo. Agora, adolescente é um capeta. Bicho safado, danado. A tal da loirinha fofinha que estava cagando para o que você vestia ou deixava de vestir (se você deixasse de se vestir também não seria problema, enquanto criança. Seria até fofinho) agora comenta com todas as porras das amigas sobre como você está escrotamente mal vestido e, pior, diz que não ficaria contigo ja-mais.
E eis que essa foi a minha vida. Até a adolescência, eu era uma das pessoas mais sacaneadas da face da terra. Até que, inspirado em toda a magia da minha querida e sempre favorita banda Aborto Elétrico, resolvi deixar a revolta tomar conta desse corpitcho e me dedicar à vida do crime.

Brincadeira.

Mas eu realmente virei uma nova pessoa. Troquei os óculos de grau por escuros, o aparelho, eu tirei (que se fodessem os dentes), nunca mais usei pochete ou regatas. Andava de moto para lá e para cá e as meninas começaram a se interessar, ainda que vagamente, por mim. O meu corpitcho nunca havia estado mais gostoso, pois agora eu malhava sem parar. Não havia quem resistisse ao meu charme. Mesmo assim, passados os anos, a adolescência, eu me via como um adulto vazio, esdrúxulo, desprovido de qualquer boa história para contar aos meus netos (o que também não seria problema, pois eu nunca os teria, já que para isso eu teria que arrumar uma mulher, fazer um filho com ela para que este sim fizesse um outro que eu pudesse chamar de neto). Olhando-me fixamente no espelho do Rio Sul (e, para piorar, eu ainda era o único que frequentava esse shopping super maneiro), tive o meu mais profundo momento de reflexão da vida. Percebi que eu tinha, sim, uma ótima história para contar aos meus netos. Ou, se eu não os tivesse, para qualquer outro que se habilitasse em escutá-la: a minha história.

Foi então que resolvi ir para casa e criar um blog.