você que já veio e você que está

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Dormes

Eu controlava o relógio despreocupadamente, como quem sequer o fazia. Três e meia da tarde. Era a hora.
Corri para a janela de onde sabia poder te alcançar com os olhos sem nenhuma esperança. Isso porque eu já o repetia há centenas de dias e, nunca, nada. Neste dia foi diferente. Você estava: gritei teu nome do alto e nas primeiras quinze vezes você não me escutou. Talvez tenha até ouvido um ruído ou algo do tipo, mas nunca olhou. Tentei uma décima sexta vez e eis que você começou a procurar com os ouvidos, olhos e a cabeça, de onde teria saído o som.
Olhou para cima.
Seria um anjo?
Era eu. Você não tinha visto ainda. Gritei com mais força, agora eu sabia que você me ouvia. Eu sabia.
Era eu.
Você e eu me olhamos. Você de fora e eu de dentro - de fora, você provavelmente via a mim como a mesma menina de sempre; de dentro, eu via o seu sorriso, que refletia nos meus lábios e os curvava também para cima, imitando os seus.
Você e eu te olhamos.
Sou eu.