você que já veio e você que está

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Querido Orkut (ressurgimento)

Orkut é uma coisa muito curiosa. Quando você se inscreve nesse site de relacionamentos, tem que preencher uma espécie de formulariozinho, no qual estão contidas milhares de perguntinhas escrotas sem as quais a efetivação da sua inscrição não rola. A primeira coisa com que você se depara é o famoso “quem sou eu”, ou “about me”, para os aderentes do american way of life. Em principio, esse espaço era dedicado a frases clichês e totalmente óbvias que resumissem a sua pessoa, por exemplo, “eu sou um cara com muitos defeitos mas também cheio de qualidades, amo a vida e os seus ensinamentos”. Tinham até umas pessoas mais certinhas e especificas que não se contentavam com explicações generalizadas para seres humanos genéricos e faziam questão de colocar “Me chamo Edilza, tenho 1.73, meus dentes são próteses e eu moro de aluguel no banheiro da minha prima Mirtes, da Bahia”, elas preferiam uma coisa mais pessoal. Mas de uns tempos pra cá, as pessoas resolveram inventar uma moda de dar lição de moral ou citar frases filosóficas via perfil do orkut. Aí você acaba lendo coisas mais escrotas ainda, do tipo “Me jogue pedras e eu construirei um castelo”, ou “don’t worry, be happy”. Você desce um pouco os olhos e encontra uma série de perguntas esdrúxulas que não importam pra ninguém, a não ser pra você mesmo, que se diverte passando horas pra responder, já que finalmente “alguém” se importou com o que você gosta ou deixa de gostar. Livros. Uma pessoa que fica o dia inteiro com o cu na cadeira mandando scraps pros outros lá vai ler alguma coisa? As paixões geralmente são o mar, o sol, o surf, a areia – ou seja, a praia, de uma maneira fragmentada –, ou então alguma coisa mais ampla, pra aqueles que fingem ser ardentemente felizes e enchem o perfil de carinhas-sorriso ou o que seja essa porra, e aí preenchem essa perguntinha com respostas como “simplesmente, a vida”. Tem os egocêntricos, que se resumem a responder com uma palavrinha só: “paixões? Eu”. E quando perguntam sobre os filmes? Tem aquelas pessoas que fazem a mais absoluta questão de fazer uma lista quilométrica dos seus filmes preferidos, quando na verdade dois ou três nomes já estariam bastante suficientes. Elas colocam um asterisco e o nome do filme, um asterisco e o nome do filme, um asterisco e o nome do filme, novecentos milhões, trezentos e sessenta e cinco mil asteriscos e os nomes dos filmes. Como se alguém fosse realmente ficar lendo aquilo (o pior é que tem gente que fica). Atividades: o que seriam “atividades”, para o senhor Orkut? E os livros, paixões, filmes, esculturas, passeios de velocípede, animais de estimação, andanças de pedalinho na lagoa? Ainda querem mais atividades? Eles pensam o quê, que nós somos ativos? Hello, nós estamos no orkut! Quando você tem que adicionar também é meio engraçado. Talvez um pouco deplorável. Porque veja bem, quando você adiciona uma pessoa, você esta automaticamente se assumindo um solitário. Você manda alguma coisa tipo um recado, dizendo assim “oi, você se lembra de mim? Eu te adicionei, você pode me aceitar, por favor?”, ou então, pior: “quer seu meu amigo?”. A parte das comunidades também é bem ampla. As primeiras de que você faz parte são, geralmente, as clássicas. Existem várias, mais a mais legal de todas é aquela “nunca acabei com uma borracha”. Algo bastante construtivo, como sempre. Depois você começa a procurar alguma comunidade que tenha a ver com você, e acaba entrando em alguma tipo “Me apaixonei pela pessoa errada”. A medida em que você vai zanzando pelo site, repara na vastidão que é o acervo de comunidades existentes. E a diversidade é uma coisa absurda. Você clica em uma e vai chegando nas outras, através das comunidades relacionadas. Existem varias linhas de comunidades no orkut. A romântica, pra cornos e mal amados, do tipo “Me apaixonei pela pessoa errada”,“Será que você não vê que eu te amo?”, “O que eu faço pra você me notar?”, ou então “Estoy aqui, querendo-te”. A de auto-ajuda, como “Seja sempre você”, “Eu sou mais do que isso”, “Eu? Me abater? Nunca!”; a de intelectuais anti-sociais e totalmente cultos, tipo “A arte da Prolixidade”, “Good Writing is Sexy”, “Eu sou um personagem de Nelson”; a de recalcadas e/ ou trocadas por alguma loira mais gostosa, como “Eu Odeio Aquela Vaca” ou “Me bloqueia que eu te excluo”; a de ex-excluidas-agora-super-pops, como por exemplo “Baby baby, agora que cresci você quer me namorar”, “You are so last week” e “Vou pensar se te dou meu número”; a de gordos conformados, “Sou gordinho mas sou feliz”; a de gordos crentes na possibilidade de um futuro emagrecimento, “Fashion Week 2010, aí vou eu”.
O pior é que tem gente que perde tempo com essa merda. O pior é que tem gente que perde tempo lendo essa merda. O pior é que tem gente que perde tempo falando de gente que perde tempo lendo essa merda.