você que já veio e você que está

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Escândalos

Não é que eu não seja fã de escândalos.
Eu não sou fã dos seus escândalos.
Eu sou fã dos meus.

o trabalho do poeta

o trabalho do poeta,
eu percebo,
é estar numa conversa séria contigo
e não conseguir prestar atenção em uma palavra do que você diga
em troca de observar cada vez
que você prende e solta os cabelos, ascende e apaga um cigarro,
e, depois,
adicionando um toque personalizado de drama,
reproduzir a ocasião com frases soltas à respeito de tudo,
menos do conteúdo óbvio.

Fora de mim

Qualquer coisa que nos mantém afastados de nós
costuma ser muito interessante.
Por isso a bebida é tão interessante.
Por isso o sexo é tão interessante.
Por isso os outros são tão interessantes.

domingo, 26 de dezembro de 2010

"nova" comunicação poético-amorosa

a poesia expira tanto quanto o amor expira
ambos expiram
e inspiram

a poesia nasce duma mão que quase certo sofre
o amor, duma alma nobre que se abre para o além corpo
e ambos morrem

a poesia e o amor estão juntos porque não se poetiza
sem um quê de vício e não se ama sem um quê de medo
então se sucumbe

escrever e amar são fáceis
ambos. Porque para escrever basta apoiar em algum lugar
e para amar, ora, basta apoiar em alguém

afinal de contas não é verdade que escrever poesia vem da vontade
de que alguém seja testemunha do seu espírito
e amar vem da vontade de que alguém seja testemunha dos teus dias?

a poesia expira tanto quanto o amor expira
ambos expiram
e inspiram
ambos respiram
ambos param de respirar
ambos morrem.

a necessidade do estacionamento de corpos

pelo amor de deus, vamos ser crus um pouco. só assim –
sem jogos de palavras sem olhares torcidos sem roupas, mas, sem tesão,
apenas as criaturas paradas uma
diante da outra sem tocar-se entendendo-se só de análise,
vistas atentas e
carne acomodada,
eu pessoa me apresento a você pessoa.
nossas
pessoas agora podem socializar.
oi,
eu disse,
olá,
voce disse,
tentando comigo um aperto de mãos:
eu não deixei que você tocasse as minhas –
o toque é corrosivo
o toque é sujo
o toque trará o sabor do sexo
o simples toque de mãos
o objetivo é a frieza, o cálculo
que estejamos, sim, absortos.
vamos ficar crus despidos! enxergar fundo o que olho nenhum consegue
nem o esquerdo nem o direito nem o chacra nem o cu.
eu não te culpo pelo nosso profundo desconhecimento, eu culpo a
mim por não saber em quem pôr esta culpa.
tudo o que futuramente vier de você provavelmente me atrairá: um olhar desejoso de cama, um caminhar, um trote ou marcha
mas para que todo o resto funcione preciso de tempo parada
preciso de tempo parada te absorvendo e você me absorvendo
e nesta profunda absorção eu quero me sentir no direito de ser abduzida (por uma nave)
quero estar pura, neutra, para ser arrebatada por sensações
- eu te poderei ver como é e vice versa.
de outra forma
nunca seremos absolutamente nada
um para o
outro.

- depois de pensar sobre isso -

eu acho que não mereço
uma gota
do que quer que seja
a menos que seja
veneno,
por isso
não se acanhe,
ao contrário, sinta-se à vontade para me matar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Término

na verdade foi mais fácil do
que eu imaginava, eu ia ensaiando por horas
por dias pela rua em casa até cagando
no banheiro

eu ensaiava
como eu ia te dizer que não te amava mais
comé que se diz pra alguém que não se ama mais?
você mudou de uns tempos pra cá

não, minto, fui eu que mudei,
eu disse (pro espelho),

tenho tido tanta coisa pra ler que mal
me sobra tempo pra mim mesma

que merda de desculpa
até cagando eu conseguia perceber como era uma
merda essa desculpa

foda-se, parei de ensaiar, fui até ele
e falei o seguinte: olha, querido,
eu disse,
eu não gosto mais de você. é que... me desculpa. eu não
sei direito o que é, mas acho que é a cor do seu cabelo.

você tem uma cor de cabelo um pouco indefinida.
isso traz muito da sua personalidade.
seu cabelo não é nem de todo cinza nem de todo castanho, isso

me intriga. quererá isso dizer
que você não sabe quem é direito?

que você não tem personalidade?

que você é inconstante, imaturo?

não sei, e tenho medo de descobrir!
tenho medo de estar perto de você!
tenho medo de você!

fique longe de mim - não chega a mais de cem metros - se afaste
EU ESTOU FALANDO SÉRIO, SE AFASTE ou
eu grito -Polícia,

eu disse,

eu grito mesmo, hein! Socorro! Socorro! Bombeiros! Fogo!
se você ficar aí parado olhando pra
mim com essa

cara de maníaco
eu grito que você está me tacando fogo. O quê,
vai tacar de verdade?

ele vai tacar fogo!!!
salve-se quem puder!!!
como eu pude, meu deus, como eu pude
como eu não vi,

meu deus,

como eu não vi

afobadamente
peguei a minha capa de chuva
ergui o capuz de PVC
seu monstro,
eu disse,

bati-lhe a porta
forte
extremamente forte
comtodaaforçaqueeutivesse forte

respirei aliviada
comedida
satisfeita
e fui.

acho que não me saí tão mal.
acho até que me saí bem.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Apertada de bunda

ele foi embora daqui às duas da manhã
o dia tinha mudado, porque depois de meia noite
muda, mesmo que você não tenha dormido, que ainda esteja escuro

reparei em como a bunda dele era maior
do que eu pensava
fui até lá e apertei

ele me olhou com a cara esquisita que faz
quem não entende alguma coisa
eu expliquei

"percebi que era maior do que eu achava"
nisso ele com os olhos fixos nos meus
esticou o braço e botou

pra tocar uma música no meu som
com o outro, me alcançou, me levantou e me rodou no ar
me pôs no chão e se deitou sobre mim

dias passaram enquanto brincávamos
rolávamos pra lá e pra ali e
mais dias e mais dias e

foi quando eu disse "querido, melhor você ir"
ele, triste. Não se manda alguém embora assim
mas eu mandei, mandei porque

tinha sono, o encontro com a minha cama, mas, eu sozinha
dessa vez,
me fazia delirar de prazer

por isso eu disse o que disse
e com os olhos, de novo, ele me pedia mais
e dizia "vamos"

eu dizia "vá, estou com sono, minha boca está seca
você me está secando os lábios, os olhos, está me
deixando anêmica. E olha que não estamos numa história de vampiro"

ele sugeriu entrarmos; eu, delicadamente, me levantei
comecei a me vestir de forma sugestiva
minha sugestão era que ele fosse - eu queria mesmo dormir

vi a mágoa em toda a sua linguagem corporal
fiz que liguei mas não liguei
apaziguei "vamos, querido, não fique assim"

foi quando percebi: nem eu estava mais lá
a bebida me havia subido à cabeça e o sono, então
tudo conspirava para que eu desmaiasse ali mesmo

mas não.
Ele se levantou
e fomos à porta

no que ele dispara: "nunca mais faço sexo com você
você me deixa atordoado
eu nunca sei o que pensar

você me usa
você acha que eu sou um brinquedo
você me trata como se"

"vá para casa e me deixe saber quando chegar, sim?"
e um beijinho
na trave

depois uma mensagem
"eu nunca mais quero te ver. Ingrata"

e tudo isso por causa de uma simples
e corriqueira
apertada de bunda.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cássia que me desculpe

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, esperando a van da escola, sozinha. Atrasada com meu fichário novo, cantando alto pelos meios por ser uma menina má. Quem sabe o príncipe virou um chato que vive dando no meu saco? Quem sabe a vida é não parar. Eu só peço a Deus um pouco mais de malandragem, pois fui criança e não há a verdade. Eu sou poeta e amo torto, eu sou poeta e amo torto. Bobeira é não viver a fantasia. E eu ainda tenho a vida inteira. Eu corro nas ruas, eu levo xeque, mudo uma roupa ou de lugar, não dirijo minha bicicleta (porque não sei andar), tomo meu pileque e ainda tenho tempo pra escrever! Pra escrever!

Eu só peço a Deus um pouco mais de malandragem... pois sou boba
E não conheço a verdade, mas quem conhece?
Eu sou poeta e ensino a amar (trago seu amor em 3 dias)
Eu sou poeta e ensino a amar

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

oPÓésolto

eu estou te espedaçando
ao mesmo tempo estou me pindo
mesmo não cordando comigo
mesma

estou bravando o caminho
e troçando os riscos
e persando notas
e colhendo horas

pra cantar
uma mesma música
uma mesma lúdica
uma menos má

canção que quero
numa mesma bar
numa mesma mesa
de

ri! vai
o caminho é livre
o último episódio é light
o pó é solto

a base é stick
o homem é nu graças a deus
a vida é feia como manga chupada por cão
e eu canto

a mesma
a mesma
a mesma
canção

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

livro levo solta

Seja sensível
Receba o toque aveludado de uma poesia na sua alma
Seja mártir, doer e sangrar é divino
Seja sempre que der ator
Maquie-se, pois um homem verdadeiramente ligado a si próprio precisa saber desligar-se
E gostar
Sente-se e escreva poesias que toquem aveludadamente a outros
Que sejam como mãos suas acariciando a outros
Não só o que rime tampouco só o que seja belo
A importância da simetria diante do sentir e expor é pó, juro
Escreva o ar que te venta e o tombo que tenha levado
Ou para o namorado ou escreva por escrever
Qual a importância de qualquer motivo para qualquer ato?
Importa é o ato
Por isso somos o que,
Atores,
Nos tornamos: pelo livre, pelo leve, pelo solto.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

'Você já parou pra pensar que' ou 'A sua mãe também é uma menina'

basta pouco pra gente se entregar
e embora a gente negue
a gente é fáciiil
é que somos ácidas e difíceis de tragar
antes que a gente se desespere
não dá tempo de ouvir explicação

menina é bicho ruim
somos complicadas
somos feias, muito feias, acontece que nos maquiamos
dizem não ser um belo vestido e sim
o por dentro que nos faz aladas
ai, quem escreve não sabe o que diz

gente que pensa que manja
tudo de menina mas menina não é
pensa errado. pode ser o maior literato
perito sujeito reporter esperto ou, travestido, ter dado canja
- se não tem o espírito se não é se não é -
não é e ponto desculpa cortar-lhe o barato

amamos [(...)a ideia de amar] muito mais que o suficiente
somos feias, muito feias, acontece que nos maquiamos
gostamos de saia, ué, gostamos

usamos saia giraaaaaaaaaaandooooooo levanta com ar
os meninos aolhar
tipo Marylin

tipo Scalet tipo Sheyla TIPO XUXA!
QUAL, que menina não gosta dum rock dum rosa chock
dum rosa bebê
dum rosa rosè
dum rosa penélope
dum rosa pálido
dum rosa médio
dum rosa alaranjado
dum avermelhado
dum ensanguentado

QUAL, que menina não adoraria ensanguentar alguém
só de olhar, praguejar três dúzias de... jogos de futebol perdidos para o outro time e depois ir tomar um banho de sol com um maiô Navy em Fernando de Noronha e três saquês oferecidos pelo barman gostoso?

O DIABO VESTE PRADA ou é prada que se veste de Diabo
(?) (hein)
somos todas umas fúteis umas estúpidas umas malucas
e nem todas
mas quase todas
d e l i c i o s a s

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Poemas soltos da aula de álgebra

1 - A grande felicidade será
Que quem magoares
Deseje-lhe que brotem apenas
Mãos de seu cérebro
E não outros órgãos.

2 - O interesse ser móvel
é pelo desinteressante ser óbvio

3 - Menina pura
Qual água suja -
Imundice nua

4 - O único choro que verdadeiramente não provocamos
É o que quando chegamos ao mundo
Choramos

5 - Como é triste a liberdade
não é senão eterna busca
por novidade
que em segundo
vira distante -
a sempre busca
por afligir-se
e no quesito fase
é constante.

3 - Saber-se é muito pensar-se
E pouco buscar-se.
(Por isso essa legião de acomodados
Por quem todos os dias
Como soldados
Quem pensamos que somos
Passam)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na lata

Não acho que estejamos
Não adiantam os conselhos que nos escrevemos
Nem eu nem tu os lemos

Não acho que estivemos
Nem que vamos, muito menos que vamos estar

Não dói em mim
Te dói?
A graça é que me feres e a ti mesmo te corróis

s e m q u e e u m e m o v a

Por dentro e tentas tanto ainda que haja um dia ‘nós’
Pois não dói em mim
E eu digo isso assim, latamente

Na lata!

Sei que querias, pois sentes saudade
Que eu me debruçasse sobre os meus joelhos
Que eu me sentasse na calçada, os olhos vermelhos
Que eu desamasse aos poucos o que visse no espelho
E sei que não por maldade, eu juro que sei

Aconteço ser mais forte que supões
Levantei pedras de onde nem imaginas
Dou a quaisquer palavras que queiras rimas
Olha como pegas tua menina e a subestimas
Olha como a trataste nos últimos dez verões

Acontece que me aconteci
Para mim mesma de uma forma mágica
De repente não menos trágica
Suicidando-me enquanto simpática
Morri

É que sou prática!

Na lata

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ciência do céu

Deus também é uma minoria.

sábado, 11 de setembro de 2010

Do meu dever incontestável e absoluto de me indignar com qualquer coisa, afinal para que servem os jovens?

*Leia ouvindo rock progressivo da pior qualidade

1) Por que, num texto, numerar pessoas é tão mais fácil do que chamá-las por um nome, que terá que ser inventado? Talvez porque números não tenham que ser inventados, eles já existem. Mas e quanto aos números a que nunca se chega numa contagem? O que vem depois dos quinquilhões de qualquer coisa? Quantos pares de All Star caberão numa sala?

2) Porque eu me importo?

3) Faz um tempo, eu me peguei reciclando todas as minhas roupas. Reciclando, mesmo. Selecionando, jogando fora, cortando umas, colando noutras. A verdade anarco-punk é que eu só queria me livrar de roupas. Me livrar de roupas. Deve ser sensacional sair por aí pelado, eu, que sempre quebrei ou tentei quebrar, ou tentarei, convenções, nunca saí. E acho que nunca vou. Essa perspectiva me mata, achar que nunca vou. Mas é a verdade, fazer o quê, não vou ficar me enganando como muitos (ficam me enganando).

4) Eis que são duas coisas que eu adoraria fazer: A) contar eternamente e B) sair por aí pelada. De repente sair por aí pelada, sentar em alguma esquina e contar.

5) Contar eternamente eu vejo como uma forma de desafio. Estou desafiando essas porras desses números. Quero ver até onde eles vão. Eu fico aqui contando. Vamo lá.

6) Agora mesmo vocês foram testemunhas do meu apego por tudo que é finito: separei em A e B os meus planos. Não que sejam planos – não. Mas não é engraçado? Como tudo é mais fácil, até para o ser que não só não é organizado como também não faz questão de ser? É inconscientemente mais prático classificar o que quer que seja em grupos discernidos por letras, números. Letras.

7) Letra não tem essa viadagem. Letra é um negócio que acaba. Depois de “Z”, não tem mais nada, pá, foi, fim. Não tem esse mistério escroto, essa de ninguém saber onde acaba, quando acaba, como acaba, pra que serve o resto que ninguém usa, se alguém usa, se tem resto. Não é que nem número. Número é coisa de viadinho.

8) Letras sempre me agradaram mais do que números. Números são matemática, e matemática tem um santo que não bate com o meu. Sou judia, deve ser isso (judeu não tem santo). Matemática então está tentando bater com um santo que não existe. Vai ficar lá pra sempre. Batendo. Letras são fofas, letras formam palavras, letras dão em música, letras põem a alma pra fora. Letra é uma coisa foda.

9) Como é que você escreveria “eu te amo” pra alguém em números? No máximo ia dar uma de Família Restart, mandando um shift+vírgula+3 (<3 – coraçãozinho). Po, puta falta de sacanagem, meu. (http://www.youtube.com/watch?v=oXMTWS2i2ng)

10) Mas eu ainda quero sair pelada por aí. Tipo Hair.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Amooooorrrrr

Simplesmente nada foi mais forte do que o dia em que te olhei pela primeira vez. Porque é que olhos são tão janelas? Almas tão saltam de olhos? A vidraçaria humana também entra em crise - catarata, miopia. Mas a crise maior é a de olhos que não são olhados de volta. A de vozes que se calam por não encontrarem eco. Tudo humano se entristece, não é só o ser em todo, o ser em especificidade também. O homem em partes se aborrece, chora, ama, as mãos amam, os dentes amam. A cor de cada órgão depende unicamente de seu grau de amor pelo externo. A infinidade é o externo; tudo o que vai além de si próprio enquanto humano; tudo o que participa da transgressão corpórea; o que evapora fora do ser e ali mesmo nasce; o panorama horizontal. O amor tem com isso nada mais que uma relação de ódio. Com a matemática. Não é, o ódio, amor? Em toda a sua paixão furiosa? É claro que é. É o estado primo do amar, odiar. É o amor na cor vinho, na primeira casa, vestido de paixão rústica, há necessidade de destruição, há mortes internas a todo o minuto.

Quantas vezes mais vamos falar de amor até que cansemos? A que horas cansamos?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Minimalismo.

Do que se pode dar
O que se pode querer
É, no mínimo, animalismo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ano.

É com letras póstumas, não de Brás nem de cubanos
Menos engomadas que as de parnasianos
Menos retilíneas que as de cartesianos
Que surgem poemas dessas mãos, levianos

Doidamente a mim me engano
Despudoradamente explano
Que entra ano sai ano entra ano,
O corpo meu inda’rde por um mesmo fulano

Do trapo de teu adeus fiz pano
Do barulho notas de piano
Rio seco do que de lágrimas fora oceano
E sorriso brotou desse rosto profano
(como que jasmim)

Foi com armas como as de veterano
Amou-me aos detalhes como que por plano
Sondou-me qual paisano
Esbanjador vaidoso dum ar urbano

Quis cair no mundo; provinciano
Queira não cair do mundo pois há dano
De minha sempre morenice eterno soberano
De minha doce meninice diabo samaritano.

(É teu nome bom para rimar.
Nunca me foi desafio.)

sábado, 21 de agosto de 2010

Do razo de todo ser

De voltas e voltas que dei
sei é que de livros que li, pessoas que amei
peguei para mim um pequeno bocado
de lições que compartilho com quem
se dispõe cá e lá, calado
a escutar
o que fiquei loucamente afim de espalhar, depois que primeiramente percebi:
como a gente é pequeno!
diante da infinidade das coisas, boas ou más
diante da divindade, existente ela ou não
diante dos outros, diante um do outro
e como a gente é otário!
na frente do homem seu ego, na frente deste, nada
muros, castelos se cria
a si próprio recria-se para o gozar de si próprio
e o quão tolo é pensar na mesquinharia que são os nossos achares?
no que se baseiam os nossos quereres? na pequenez
de nós mesmos, em corpos de gigantes, quer parecer às formigas
mas idiotizados pelos céus, sacaneados pelos anjos.
feliz do dia em que houver alguém que acorde e não se olhe no espelho.
até lá, somos escravos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Peter Pan do mau, a sombra, o vento ruim

Ai, sai daqui com teus trapos, memória infertil. Larga-me ao meu vicio de esquecer-me, afugenta-te, entende que estou dolorida e vou morrer de amor. Va-se! Morte como esta não satisfaz, adia, só. Foge de mim enquanto ainda estou jogada no chão e não posso correr. Que jogo esse que jogamos conosco mesmos, perecível divindade. Tudo o que resta sempre e igual - o marmore e o mau. Tudo fruto de apedrejamentos e apodrecimentos das tonturas boas em conserva, faltaram especiarias. O ser docificado e maior do que todos os seres, ao menos em simbolo, gasta sua imagem. Deixa que durma, asa ruim, criação nefasta, imagem distorcida, mentira de mel. E vai dormir também, para que, mais tarde, eu te desperte. Ou alguém te desperte em mim.

domingo, 1 de agosto de 2010

Uma música clássica quase mudou minha concepção

perdi o sinal
isso foi a coisa mais triste que já me aconteceu em vida

corri desesperada
mas, nada

mais nada! correr é tolo
quase como dizer 'quando perde-se'
quando o certo é dizer
'quando se perde'
tolinho, tolinho

nextel é foda

correr é erro de português
é erro de inglês, erro de retorno

quase como quando há eco
e não se consegue dizer 'oi'
sem que volte 'oi'
e assim se fica para sempre
'oi'
'oi'
'oi'
'oi'
conversa circularmente tolinha

então repete-se sempre a mesma história
com a mesma Soraia e o mesmo lucas com 'l' minúsculo
de sempre

Soraia, modelo de biquinis da estação, lucas com 'l' minúsculo, o bosta de seu namorado

isso era para ser uma poesia que era para ter nexo
mas que resolveu seguir o curso poético

- formei-me no curso de inglês no final do ano passado, o que foi ótimo, mas ainda não peguei o meu diploma, será que eles ainda têm? -

das poesias em geral, perdendo qualquer sentido

tiraram uma placa que dizia 'direita',
o que mudou tudo.

mudou tudo, tudo, tudo...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ao menos uma vez

"Tentei chorar e não consegui."

sábado, 5 de junho de 2010

Dona de casa que toma bolinha

quando se está de frente prum abismo de doces é
assim que se sente, né? henrique
cido
e quantos risos que já não cabem no inter e no exter
histéricos de tanto salivar bucólicas bochechas a expre
mer-se em concavidades? tantos
e quantos quantos deus quantos pontos de excla
mação poderia eu e deveria até utilizar nesse samba
estridente que canto ou excre
to? tudo faz parte de um sinistro expe
rimento em que sangram álibes fúnebres excre
mentos e penteiam os cabelos dos anjos, espec
tros?
tudo resulta duma viagem astral menos íntegra do que integral
mente ác
ida

sábado, 8 de maio de 2010

Primeiras Navegações

Ai, Deus! Como eu
chorei!

Foi tanto

que fiz viagem de navio
no próprio rio

de meu pranto

- voltei nova!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Rodrigues

- Ui, Rodrigues! Tira a mão de debaixo da minha saia! Não, não, Rodrigues. Eu já disse! Para de ser insistente. Não adianta. Eu não vou. Não vou. Não vou, Rodrigues, não vou. O quê? Mas que safadeza, Rodrigues, imagine, à uma hora dessas eu já estou há muito tempo em... Fala mais baixo, Rodrigues, todo mundo está ouvindo. Não, ai, Rodrigues, ai, não (ri feroz)! Rodrigues, você é casado. Você acha isso bonito? Não, Rodrigues, eu não vou ser a sua putinha particular. Porque não. Porque eu me dou o devido respeito. Porque, porque... porque eu sou uma mulher de fibra. Porque eu mereço alguém que – Rodrigues, tira a mão daí – eu estou falando sério – por que você não me leva a sério? – que que que me ame, que que... que que que me queira só a mim, mereço alguém que. Jura? Ai, Rodrigues, mas isso não é perigoso? Seu carro? Qual estacionamento? Rodrigues, Rodrigues. Você quer fazer com que eu perca o meu emprego aqui dentro? Não, Rodrigues, não adianta me ligar. Aliás, eu salvei o seu número como “não atender”. Porque assim é menos provável que eu te atenda. Não, Rodrigues, eu não fiz isso só para me sentir tentada. Paulo? Mas eu nunca te chamei de. Por que agora? Tudo bem, se você faz tanta questão. Tanto faz. Não, não me impressiona. Está longe. Muito menos isso. Nem isso. Também não. Aí estamos começando a nos compreender; mas... não. Talvez assim. Talvez assim. Mas um pouco mais. Mais, Rodrigues. Mais. Assim. Assim. Assim. Isso. Isso. Sso. So. O. Ah. Ah. Aaaah.

- Vem cá, quem é esse Rodrigues de quem você tanto fala no sexo?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tulipa

a beleza de tudo entre nós está na minha falta de pretensão e na tua exatidão
poéticos somos, seremos, viemos assim ao mundo em que estamos sorrimos
em letras, em pingos de tinta e pingas choramos também e amamos
a outros também e enfim estamos no mesmo lugar eu inata você
a mirrar mas nos encontraremos encontraremo-nos por aqui
nesta esquina ou naquele bar nos olhos que nos encer
ram as palavras que pousam desconhecendo-se uns
aos outros no colo de um, o outro que se põem
a cantar mudos cada um com seu respectivo
par de bolas de gude vibrantes marrons
é verdade mas não menos lindas des
ejando-se de momento, amando-se
prum momento futuro ardendo
momentaneamente de algo
que não se sabe o quê
a sobriedade, porém
mantém distante
o que perto
vive por
questão
de minutos de árvores de grades de vasos de gatos ou de tulipas

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Horizonte TRÍGAMO

O que um ou mais homens
podem simultaneamente
fazer com a cabeça duma mulher -
a cabeça duma mulher -
é duma curiosidade...

enquanto brigam abdômens
ela ruindades sente
nada que compuser -
nada que lhe vier -
limará saudade.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quase Alice

Com o lançamento do filme Quase Alice, agora é só de Alice que se fala. Não, é lógico que não. Mas tem-se falado bastante. Isso me remete inevitavelmente à minha infância (quando se é pequeno, costuma-se ter uns dois ou três filmes de desenho preferidos. Eu me lembro de ir à locadora dia sim dia não, alternando sempre Robin Wood e Alice no País das Maravilhas. Pegava um, deixava o outro. Pegava o outro, deixava um. Hoje em dia costumo me perguntar – em voz alta, no dia de sanidade nula, em voz baixa, nos dias de sanidade média, ou mentalmente, nos de sanidade máxima – por que diabos nunca veio à minha mente ou à de minha querida mãe a simples idéia de comprar as tais fitas de uma vez. Sairia incrível, massacrantemente mais barato).
Por inúmeras e incontáveis vezes fiz uso de minha irresistível expressão facial e linguagem tanto agudamente dengosa quanto extremamente persuasiva para que minha babá Tetê (monossílabas repetidas costumam ter essa conotação fofa mesmo) se conformasse em sentar ao meu lado e me fazer um cafuné enquanto era praticamente obrigada a assistir a não-tão-inédita história e se emocionar, rir, assustar-se junto comigo a cada nuance da trama, como se fosse a primeira vez. Tadinha.
Enfim, o assunto é Alice. Pesquisas estão aí para confirmar os possíveis desvios mentais a serem desenvolvidos por uma criança que assistiu à Alice mais do que teve suas fraldas trocadas. Quer dizer, qual é, uma menina que toma um chá aleatório e de repente começa a ver gatos falando, coelhos lhe apressando, baralhos dançando, rainhas de paus botando suas manguinhas de fora e que muda de tamanho conforme a ingestão de um líquido muitíssimo duvidoso não pode ser normal. Já reparou que tudo em Alice é super psicodélico? E mesmo por trás de toda essa atmosfera psicodélica, eu tenho certeza – e ainda vou convencer a todos disso: paira um ar bucólico sinistro! Faces humanas esboçadas em rosas, cobras amarelas fumantes (de maconha), muito do árcade feeling (ou talvez somente na minha louca e desconstruída opinião). Acho sinceramente meio psicopata da parte de uma criança ser viciada em Alice; inclusive acredito firmemente que ter sido fã incondicional da pequenina e despretensiosa loira chapada nos primeiros anos de vida é uma ótima desculpa para um recém transformado adolescente fora-da-lei. Não que eu seja uma: apesar de toda a influência para o lado negro das drogas, do sexo e do rock’n’roll vinda quase que exclusivamente de nossa querida Alicinha (colocando assim, parece uma prostituta infanto-juvenil), eu até que sou bem direitinha. Indiscutível é, mesmo para aqueles de quem o iluminismo nu e cru subiu as cabeças, a subversiva maneira com que os personagens são apresentados, a tendência transgressora em relação ao cotidiano e chato universo de desenhos infantis. Confesso que sempre mantive uma posição muito contrária aos comentários mundiais a respeito da maledicência de filmes como Cinderella, a Branca de Neve, etc. Não creio que haja algo de perverso em tais, ou que alguma mensagem que se tenha desejado passar chegue perto do que as mentes, essas sim, maldosas de cidadãos que não têm mais o que fazer elocubram. Ora bolas, agora uma mocinha perdida na floresta não pode nem mais encontrar uma casa de campo com sete anões na qual possa se abrigar, que ela já é uma prostituta e eles já são os seus objetos sexuais! Mas, Alice, eu concordo. É descaradamente alucinógeno e alucinogenamente descarado (adoro fazer essas inversões, mesmo quando não fazem nenhum sentido)!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Elocubrações na confeitaria

Quis Tudo dizer.
Mas Nada disse.

Postum Scriptum:
- Nada: Vocês fazem misto quente?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dia D

Houve o dia em que Deus teve com o Diabo.
- Vá de retro!
Vá reto, diz Diabo a Deus
Deus vai reto e cai num buraco
Lá ele encontra Jesus
Têm breve diálogo em que Jesus dispara
- Papai!

O outro vira com a cara de pau
Que ele mesmo fez
- Estás enganado!
Num repente o céu se rompe
Caem cadáveres, corpos, antigos mortos,
Padres
mortos
Freiras, feirantes, retirantes, viciados em refrigerantes,

Católicos
Tudo caoticamente desmoronado sobre tudo, caotizado,
E todas as coisas catolicamente catalizadas!
A vida de toda a gente é inútil
Olham-se, choram, perguntam-se
Choram também agnósticos
Deus está ali
a olho nu se vê

É a desmistificação!

Estão todos vendo! Ele só não é o pai de quem
Toda a gente queria que fosse
Não é culpa do pobre
Não ter comido a Maria certa.
A Maria certa
Nem sequer
comida foi -
É feia.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Poesia Rodrigueana

A poesia rodrigueana é suja
Tudo quanto é rodrigueano é tão sujo e tão podre que
Fascinante. É poesia de rua
Poesia que não passa perfume
Que não se arruma
É poesia rude chula linda
Poesia cuspida pisada escarrada
Encantadoramente nojenta
Aleatoriamente específica
Especificamente a mim
Toca
Masturba-me o cérebro
Inspira-me tanta poesia! e tão feia
Quão feio pode ser aquilo que
Os olhos delicados de quem lê
Crêem belo?
A poesia rodrigueana é poesia de puta e cafetão
Madonna Jesus rei Momo polícia ladrão
É poesia de se falar arrotando
De se ouvir sonhando
Mais do que mil Nelsons;
Poesia Arruda

*www.doomsdayhocuspocus.blogspot.com, para os que se sentirem curiosos sobre a nova Rodrigueanidade

domingo, 14 de março de 2010

Coisas

Tem coisas que arrasam e tem coisas que de tanto encher vazam; tem as que equanto emergem ferem e as que quando acabam doem; as que quando estão vão são as piores.

segunda-feira, 8 de março de 2010

À Clarice Lispector

Será, Clarice? Que as meninas de coração – mulheres de corpo e de cabeça loucas, independente do sexo e da idade – se de seus romances esquecerem serão quem são de verdade?
Tu à Marília de três séculos atrás alegaste: esquece o Dirceu que esperas. Colhe de teu pranto um manto e te seca. Não é, porém, frio o teu pensamento? Feminista, fêmeo, férreo?
Quem dera quem amasse fosse pastor de suas sensações. Ao contrário. Sua'lma não acolhe calma; é chama em constante brasa e cheia de lágrimas e cheia de mágoas e cheia de vícios e obsessões a fio. Quem não, rio (levado pelas águas para um sempre tão nada quanto o que não se quer conhecer). Não, Clarice. Não diga à pobre que esqueça. Não diga que envelheça sem a esperança que alimenta: alimentar a esperança não a desmembra, alimenta-a. E desse sonho poderão nascer outros, poderão, aos poucos, surgir flores amareladas de tempo, que serão guardadas numa gaveta. Não diga, Clarice, a ela que esqueça. Não diga a ela que esqueça. E não esquece também.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Qualquer coisa pra um louco. De outro.

Ai, esse cara tem me consumido! Esperando a tua volta eu canto, eu danço - mesmo aquelas coisas que não dançava desde a década de noventa, quando eu era tão cedo uma bailarininha -, eu prego que vou estudar mais esse ano e que não vou sentir saudade. Mas quando mais que saudade é falta que você faz, como se procede? Eu sigo pra lá e pra cá os passos que as vinte e quatro horas de cada dia me obrigam a seguir e me canso (de estar aqui sentada numa pedra aguardando uma coisa que talvez não chegue porque talvez o tempo não se mexa, as horas não passem e tal. Esse é o meu maior medo, virar uma estátua). O vento é um saco. Eu peço e ele continua não ventando, não sei se é o fuso. Aí deve ventar. Se você o vir por aí, faça o favor de cobrar a minha encomenda... eu te espero eu te espero eu te espero mas até quando o balanço da saudade vai ser mais langoroso do que a onde que o mar trouxe só porque você não está? Você foi procurá-la no outro lado do mundo e eu aqui, te procurando... te amando sempre, te amando e como. Desejando cada partícula da felicidade que o teu ser me traz enquanto em mim, enquanto aqui. Perto é um negócio necessário. E amor é um é dois, é três, mas, assim, só esse.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Que Seja (Para a Sua Volta)

Eu faria um soneto para a sua volta
Se soubesse quantas linhas um soneto tem
Se precisa ou não rimar
E se tem que ser belo

Então aí vai o que sei
Ou o que sinto
Ou o que vai, sendo o que seja:

O Que Seja (Para a Sua Volta):

Ter-te é a solicitação que a minha calma
Faz para existir
O alimento da minha alma enquanto
Em pranto sente a tua falta
Afago com meus punhos cheios d’água
Os olhos cheios d’água
A mente amarga
O peito em chama
Minha voz clama
Pelo doce da tua
E nua paro em frente a mim
No espelho e espio o só
Que sou
Quando estás
Longe

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Verdade, Crua Como Um Salmão

A rima é a sina
do verso que versa
o rimante
uns buscam no mundo
chama nos livros
poema nas novelas
trama nos botões
fecho nas boutiques
damas nos pés
eixo outros findam
dias e fundam
noites em um e outro (3X)
shot e - cama
imagine que o amor
sobre quem tanto se leu
e por conseguinte sobre
quem tanto se escreveu
inda não aprendeu e
continua sacaneando -
a linha não existe
senão para ser
possessivamente construtiva
ao passo que o
valor das coisas está
basicamente
em quantas vezes você
desceu para o play
para tricotar o seu vizinho
e é isso aí

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

o homem grosso

o homem grosso
é o homem insosso
depois que botam
um pouquinho de sal pro churrasco.