você que já veio e você que está

terça-feira, 28 de junho de 2011

dos mistérios

você pode
pro meu coração
ser espeto
ou espetáculo

sábado, 25 de junho de 2011

mudanças

coração trova
cova

triste
uma ova

quinta-feira, 23 de junho de 2011

porque podia doer demais

eu me afastei,
porque podia doer demais
deixei de olhar,
porque podia doer demais
andei na direção contrária,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu me sentei na pedra de um degrau
e apoiei a minha única cabeça sobre os meus dois braços,
cruzados,
e chorei umas quatro ou cinco ou seis lágrimas
que seriam melhores do que o que viria
quando começasse a doer demais
e sequei os meus dois olhos com outros dois
dos meus dez dedos
e em breve me levantei
mal acreditando no peso que a minha única coluna
exercia sobre os meus dois pés
me sentindo a pior das criaturas
rindo de mim
e me jurei que nunca mais voltava lá,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
eu neguei até a morte,
e como não morri, mordi
a língua
- está aí outra coisa que dói demais -
deixei de ouvir uma música,
porque podia doer demais
e de ir a um bar,
porque podia doer demais
e, porque podia doer demais,
doía
tudo o que pode ser
é
e nós: os mesmos. e as circunstâncias: iguais

terça-feira, 21 de junho de 2011

AMAR

guei

lição número zero

pego pelo ego
cego pelo ego
morto pelo ego
pelo ego, absorto

só pelo ego
frio pelo ego
torto pelo ego
pelo ego, outro

porque cego, pego
quando morto, absorto
e como frio, só

quem se outra
se entorta

segunda-feira, 20 de junho de 2011

paixão costumeira é a maldita

qual pedra coração empanado apodra
frito em óleo da essencial paixão:

então que se os grandes já pecam na equitação
sem conseguir equilibrar-se sobre a cela
manter os pés fincados no estribo
segurar com verve a rédea
portar-se dignamente sobre o nobre cavalo
que lhes vai por baixo,

imagine os tolos!

completamente esmagados pela menor negligência
de quem quer que amem
ah!,
estes sofrerão.

domingo, 12 de junho de 2011

amor empapado; poço

Não haverá satisfação enquanto os donos de um coração melado não o secarem no manto seco do colo do outro.
E nem revolução, enquanto o manto do colo do outro estiver seco o bastante.
Por isso há muito menos satisfação do que revolução.
Muitos corações melados. Poucos os mantos.

Gente fina

Eu quis ser a bactéria da sujeira da sola da meia que cobria seu pé esquerdo.
Ele não deixou. Achou muito.

domingo, 5 de junho de 2011

don't sit down cause i've moved your chair

eu não sou domadora de circo
então quero que te fodas tu
que me dizes – tens que controlar a tua paixão
eu não sou domadora de circo
para podar leões como o que me cresce agora [por dentro]
eu sou só uma pessoa que quer ter o direito de
não ter 1) a capacidade; 2) o poder; 3) a vontade
de se punir pelo que possivelmente sente
controla-te tu, ora, cacete, sê menos apaixonante

e tanta merda dizes, ó, doçura
tanta merda fazes
que me confundes – às vezes parece que perco
a noção da hora, quando reparo
já é cedo do outro dia...

acho que é paixão
quando perco minutos
escrevendo uma poesia
e eles parecem horas

it could be nice
but instead
it’s ice

quinta-feira, 2 de junho de 2011

centro da cidade ou corriqueirices, deusinho e fenomenalmente, palavras que inventei muito mais por querer inventá-las do que por falta das adequadas

Tenho andado pelas ruas do centro da cidade
e me surpreende que nada de muito engraçado aconteça nesse entreato
quando soube que andaria com frequência pelas ruas do centro da cidade
pensei que muita coisa engraçada aconteceria

por ex., não vi nenhum homem sobre pernas de pau
ou o rapa lavando toda a mercadoria
vi corriqueirices, nada de especial
então agora estou entrando em profunda depressão

alguém tem que fazer alguma coisa de muito engraçado
no centro da cidade amanhã à tarde
porque senão acabarei definhando de desilusão
oh, de falta de fé e de desilusão

fica assim combinado, meu deusinho,
caminharei preparada para armar um sorriso
porque tenho agora a certeza de que o senhor vai me por
uma coisa fenomenalmente cômica no meio do caminho

quarta-feira, 1 de junho de 2011

do antisonífero

O que há com as paixões de tão cadente
o que há com elas de tão latente
capaz de tornar qualquer ordinário
pássaro?
As mãos de ordinário, asas de pássaro
os lábios de ordinário, bico de pássaro
a prisão estática
a melancolia extrema
a profunda depressão
o desânimo imperativo
a alma marejada
de ordinário,
uma pena
rósea
de pássaro?
(o requinte das paixões é o silêncio
serem sofridas
vividas quieto -
sem calma, sem paz, sem lucidez
apenas o agito furioso
de uma insaciável tempestade)