você que já veio e você que está

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Há quem contradiga, mas eu digo: o medo é uma coisa maravilhosa. Essa vida traz um montão de coisas boas, e umas duas ou três maravilhosas. O medo é algo com o que se tem que aprender a lidar, é algo que se precisa saber tratar como frutífero, em vez de malígno. O medo não é um sentimento singular. Quando vem, não vem sozinho. Vem com a vergonha, com a aflição, com o nervosismo, com o desconhecido. O medo vem com o desconhecido. E com tudo isso, vem a vontade. Esse medinho de cinco minutos antes é o mais gostoso. Cinco minutos antes de entrar em cena, cinco minutos antes de chegar na festa, cinco minutos antes. Tem o medo da bronca. O medo da nota baixa, de chegar atrasado, o medo das coisas mais banais como uma barata até as que são fatalmente dignas dele: o medo da perda. É o medo o grande motor de todos os outros sentimentos humanos. É ele que evoca as mais puras e insanas sensações, que permite que se prove os sabores mais amargos e também os mais doces. É a partir do medo, e somente dele, que uma pessoa realmente se conhece. Que ela passa a se conhecer, ou melhor, a se reconhecer. Reconhece-se não como achava que era ou que seria ou que gostaria de ser ou da forma que fosse, mas como essencialmente é. O medo guarda dentro de alguém o que este tem de mais precioso. E faz com que isso exploda na hora e no momento exatos. O medo traz circunstâncias em que se vê perdido mas logo acha-se. Essencial é para o homem o medo de si.

Yasmin Gomlevsky