você que já veio e você que está

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

da forma que as ondas vão, nem parece que elas vem

A janela de todo mundo está molhando da chuva que, enquanto cai, alaga a Gávea.
A Gávea alaga logo quando tem dessas chuvas.
É noite. Eu estou no mar. Acabei de terminar a areia. Meus pés conhecem o quente da água. Deliciando-se, molhando-se, querendo-se molhar inteiro. Eu continuo andando. Agora quem se apresenta ao oceano são minhas lisas e longas pernas. Entram ousadas. Como que assim fossem encontrar a felicidade eterna. É quando a água se atreve pouco mais – sobe-me à barriga em um arrepio cronometrado.
Quem disse que onda não sabe contar.
Pés, pernas, barriga, mãos, braços e pescoço imersos. Estou muito parada, tanto quanto a água queria estar quando eu me mexia. Meu olhar está fixo nas ondas de trás, nas ondas de longe, que a olho nu fica difícil de ver.
Ai, se eu tivesse um binóculo.
Continuo andando. Estou sentindo em meus lábios um sabor salgado que me provoca sede, mas agora me dá uma preguiça de voltar. Molha-me o nariz o mesmo líquido e presumo que fechar os olhos é normal. Fecho-os. No mesmo embalo vão-me os cabelos; perco-os, de tão pesados. É um mergulho. Continuo andando. Eu não luto a meu favor. Lava-me e leva-me, mar.